França fecha venda de peças de artilharia à Armênia e amplia a crise com o Azerbaijão

Acordo surge conforme Yerevan e Baku tentam resolver questões históricas que levaram a uma série de confrontos militares nos últimos anos

O governo da França, através do ministro da Defesa Sebastien Lecornu, anunciou na última terça-feira (18) um acordo para entregar peças de artilharia à Armênia, no momento em que o país do Cáucaso tenta se acertar com o vizinho Azerbaijão, que reagiu com irritação ao anúncio. As informações são da agência Reuters.

“Não consideramos eficaz a política da França em relação ao sul do Cáucaso. É uma política prejudicial”, disse Hikmet Hajiyev, conselheiro de política externa do presidente azeri Ilham Aliyev. “Isto é um golpe na regulação das relações entre o Azerbaijão e a Armênia.”

O fortalecimento militar armênio incomoda Baku devido à antiga disputa territorial entre os dois países, que levou a diversos confrontos militares. O mais recente deles, em setembro do ano passado, permitiu ao Azerbaijão reconquistar a região de Nagorno-Karabakh, que declarou independência após uma guerra que matou 30 mil pessoas e deixou centenas de milhares desalojadas entre 1992 e 1994.

Sebastien Lecornu (à direita), em cerimônia militar em outubro de 2022 (Foto: Ecole polytechnique/Flickr)

O Azerbaijão havia retomado o controle de partes do enclave após uma guerra que durou seis semanas em 2020, e em setembro de 2023 derrotou definitivamente as forças separatistas armênias após uma rápida ofensiva. A vitória azeri levou mais cem mil armênios a deixarem Nagorno-Karabakh.

Conforme os dois vizinhos negociam um acordo capaz de encerram definitivamente o embate histórico, o Ministério das Relações Exteriores azeri condenou o acordo entre Paris e Yerevan, classificando as ações do país vizinho como “ilegítimas” e dizendo que elas “representam uma ameaça para o Azerbaijão.”

Por sua vez, a Armênia afirmou que é um “direito soberano de cada Estado manter Forças Armadas com capacidade de combate equipadas com meios militares modernos.”

Na semana passada foi a Armênia quem contestou um acordo semelhante beneficiando o Azerbaijão, que teria recebido armas de Belarus entre 2018 e 2022, dando a Baku uma importante vantagem militar na disputa por Nagorno-Karabakh.

A situação levou a Armênia a deixar a OTSC (Organização do Tratado de Segurança Coletiva), uma aliança militar criada em resposta à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e liderada pela Rússia, da qual o governo belarusso é signatário.

Crise entre França e Azerbaijão

Para a França, o fornecimento de armas à Armênia tende a aumentar sua própria crise diplomática com o Azerbaijão. Em maio, Paris acusou Baku de coordenar uma campanha online que inflamou manifestantes na Nova Caledônia, uma pequena colônia francesa no Pacífico, localizada entre a Austrália e Fiji.

Na ocasião, o ministro do Interior da França, Gerald Darmanen, alegou que o interesse do Azerbaijão pelos protestos estaria ligado a um suposto acordo entre líderes dos manifestantes e o governo azeri, firmado na visita que uma delegação da Nova Caledônia fez a Baku.

O Azerbaijão negou qualquer interferência e disse que a alegação de Paris é “infundada”. Porém, Asim Mollazadeh, um parlamentar azeri que participou do encontro, diz que ouviu reclamações a respeito do tratamento dispensado pelos franceses à população nativa.

Ainda segundo Mollazadeh, os neocaledônios “lutam pela sua liberdade e pelos seus direitos.” E acrescentou: “A história também lembra os crimes cometidos pela França.”

Por outro lado, a França tem laços históricos com a Armênia e abriga uma grande diáspora do país, de acordo com a Reuters. Paris é também, um dos mais importantes aliados militares de Yerevan dentro da Europa.

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