Na semana passada, o primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinian, anunciou que seu país deixará a OTSC (Organização do Tratado de Segurança Coletiva), uma aliança militar criada em resposta à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e liderada pela Rússia. O anúncio evidenciou a ruptura entre Yerevan e Moscou, aliados históricos, e por trás da decisão está um acordo militar firmado entre Belarus e o Azerbaijão. As informações são do site Politico.
Entre 2018 e 2022, Minsk forneceu armas ao Azerbaijão, dando-lhe uma importante vantagem militar na disputa com a Armênia pela região de Nagorno-Karabakh. Em setembro de 2023, as Forças Armadas azeris empreenderam uma rápida e eficaz ofensiva militar que permitiu ao país reassumir o controle do enclave, alvo de disputa desde o fim da União Soviética.
Pashinian acusou Moscou de conivência com a ofensiva e desde então passou a adotar medidas que contrariam os interesses russos. Entre elas a adesão, em outubro de 2023, ao Tribunal Penal Internacional (TPI), um movimento classificado como “extremamente hostil” pelo Kremlin porque a corte tem um mandado de prisão emitido contra o presidente russo Vladimir Putin.

Embora a Rússia tenha sido o alvo das críticas púbicas, Belarus teve papel crucial na rápida ação militar do Azerbaijão. Cartas diplomáticos, notas fiscais e documentos de exportação confirmam que Minsk ajudou Baku a modernizar suas Forças Armadas azeris, tanto atualizando armamento antigo quanto entregando armas novas, inclusive drones e artigos para ataques cibernéticos.
O material não foi usado somente na rápida ofensiva de 2023. Vinha sendo útil ao Azerbaijão em confrontos anteriores com a Armênia, que cada vez mais tinha dificuldade para sustentar seu domínio sobre Nagorno-Karabakh. Cerca de cem mil armênios étnicos tiveram que ir embora após a derrota militar de seu país no ano passado.
Um dos documentos acessados pela reportagem afirma que empresas de Belarus desempenharam papel ativo “na restauração dos territórios desocupados do Azerbaijão, bem como na exportação de bens e serviços belarussos.”
Segundo Eduard Arakelyan, analista militar do Centro Regional para a Democracia e Segurança de Yerevan, o equipamento fornecido por Belarus “foi usado com efeitos devastadores contra as tropas armênias e foi fornecido por um país que deveria ser aliado da Armênia.”
Ainda de acordo com o especialista, a aliança entre Minske Baku é, “em termos formais”, uma “violação total da aliança OTSC.” Ele acrescentou: “Mas, na prática, sempre soubemos que o bloco apoiava mais o Azerbaijão.”
Ao anunciar sua decisão de abandonar a aliança, Pashinian deu a entender que conhecia a situação. “Vamos sair. Decidiremos o momento da nossa saída”, disse ele a legisladores de oposição na semana passada. “Acontece que os membros da aliança não estão cumprindo suas obrigações contratuais e estão planejando uma guerra contra nós junto do Azerbaijão.”
A saída da OTSC reforça a tendência de inclinação da Armênia ao Ocidente, o que já havia ficado claro na adesão ao TPI. Outro sinal foi a ordem para que soldados russos estacionados nas fronteiras armênias se retirassem, o que foi acatado por Moscou.
A Armênia chegou a ser elogiada em março deste ano pelo secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, que destacou a posição pró-Ucrânia do país e prometeu apoiar sua “soberania e integridade territorial.”