General norte-americano diz que vitória talvez seja inalcançável na Ucrânia por ‘meios militares’

chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA relata 200 mil baixas de soldados e diz que solução do conflito parece cada vez mais restrita à diplomacia

A vitória na guerra atualmente em curso na Ucrânia “talvez não seja alcançável por meios militares”, tanto por Moscou quanto por Kiev. A afirmação foi feita pelo general norte-americano Mike Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA e principal conselheiro militar do presidente Joe Biden. As informações são da rede BBC.

Durante evento em Nova York, o general fez um balanço da guerra e apresentou a estimativa mais recente de Washington a respeito do número de baixas. Segundo ele, cem mil ucranianos e cem mil russos foram mortos ou feridos até aqui. Ele também citou 40 mil civis mortos em virtude da guerra. Em agosto, o Pentágono tinha calculado entre 70 mil e 80 mil baixas somente nas forças armadas da Rússia.

Oficialmente, a atualização mais recente foi dada pela Ucrânia, ainda em agosto. Na ocasião, Valeriy Zaluzhniy, comandante-chefe das forças armadas, afirmou que nove mil soldados ucranianos haviam morrido.

Quanto às vítimas civis, Milley citou não apenas os 40 mil mortos, mas também os refugiados ucranianos: algo entre 15 milhões e 30 milhões. Já a ONU (Organização das Nações Unidas) fala em 7,8 milhões de pessoas forçados a deixar a Ucrânia em virtude do conflito. Porém, não conta os deslocados internos, aqueles que tiveram que sair de casa, mas permanecem no país.

O general Mike Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA (Foto: Flickr)
A opção diplomática

Embora os números fornecidos por Washington, tanto de baixas quanto de deslocados, sejam apenas uma estimativa, Milley disse que eles podem servir para convencer os governos russo e ucraniano de que é hora de voltar à mesa de negociações.

“Você está olhando para mais de cem mil soldados russos mortos e feridos”, disse o militar. “A mesma coisa provavelmente no lado ucraniano”.

Segundo ele, diante desses dados, é necessário um “reconhecimento mútuo” de que a vitória “talvez não seja alcançável por meios militares”. E acrescentou: “Portanto, você precisa recorrer a outros meios”.

A diplomacia sugerida pelo general, que até então parecia fora dos planos principalmente do presidente Volodymyr Zelensky, voltou a ser cogitada nos últimos dias. Mykhailo Podolyak, conselheiro do líder ucraniano, afirmou que seu país estaria disposto a negociar, mas somente o sucessor de Vladimir Putin.

De acordo com o conselheiro, o presidente russo mostrou-se intransigente nas tentativas anteriores de negociar o fim do conflito. A única opção oferecida a Kiev é “admitir a derrota e a perda de territórios”, segundo ele. Nessas condições, um acordo está fora de cogitação. Daí a necessidade de negociar com outra pessoa, o que só seria possível caso Putin fosse substituído.

Rússia sob pressão

Um acordo de paz parece cada vez mais interessante para Moscou, se consideradas as seguidas derrotas de sua tropas no campo de batalha. Pesam para isso os relatos de que as forças russas estão mal equipadas e muitos dos soldados são despreparados, um problema que aumentou após o recrutamento de 300 mil cidadãos em razão de um decreto assinado por Putin em setembro.

Dois episódios recentes reforçam essa ideia. Segundo reportagem do jornal britânico Guardian, 440 novos recrutas foram mortos em um ataque aéreo ucraniano nas primeiras horas do dia 2 de novembro, na região de Luhansk, leste da Ucrânia.

As mortes foram relatadas por Aleksei Agafonov, que havia sido recrutado no dia 16 de outubro e no dia do ataque era parte de um destacamento de 570 soldados sem experiência de combate. Segundo ele, apenas 130 conseguiram sobreviver ao intenso bombardeio realizado por drones ucranianos.

“Eu vi homens sendo dilacerados na minha frente. A maior parte de nossa unidade se foi, destruída. Foi um inferno”, disse ele, acrescentando que os recrutas haviam sido abandonados pelos comandantes da unidade pouco antes do início do bombardeio. “Duas semanas de treinamento não nos preparam para isso”.

O mais recente revés das forças russas, anunciado na quarta-feira (9), é a retirada de suas tropas da capital da região de Kherson, uma das quatro formalmente anexadas pela Rússia em outubro. Falando à televisão russa, o ministro da Defesa, general Sergei Shoigu, disse que não era mais possível manter o abastecimento da cidade, uma das primeiras áreas urbanas conquistadas pela Rússia.

Desde o mês de setembro, as forças da Ucrânia realizam uma bem-sucedida contraofensiva que levou à reconquista de milhares de quilômetros quadrados de territórios antes ocupados por Moscou. Os esforços de Kiev atualmente estão concentrados justamente na região de Kherson, no sul do país. Uma evacuação de civis está em andamento, e a expectativa é de que 60 mil batam em retirada.

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