Não é segredo que os prisioneiros russos foram recrutados para lutar na Ucrânia. Mas uma análise da BBC revela uma mudança significativa na abordagem: agora, acusados que ainda não foram julgados também estão sendo incluídos nesse recrutamento.
A legislação aprovada em março de 2024 estabelece que os advogados de acusação e defesa devem informar aos acusados da maioria dos tipos de crimes sobre a opção de ir para a guerra em vez de enfrentar o tribunal. Caso aceitem a oferta, as investigações e processos legais serão suspensos, e os casos serão encerrados ao final do conflito.
Um dos casos é emblemático. O ex-atleta russo Andrey Perlov, que conquistou o ouro na marcha atlética nas Olimpíadas de Barcelona em 1992, foi preso em março deste ano, aos 62 anos. Ele é acusado de desviar 3 milhões de rublos (aproximadamente R$ 178 mil na cotação atual) enquanto ocupava o cargo de diretor de um clube de futebol.
Perlov e sua família negam as acusações de irregularidades, alegando que ele está sendo pressionado a se alistar militarmente em troca da suspensão e possível arquivamento do caso de peculato.
Olga Romanova, diretora da ONG Russia Behind Bars, que atua na defesa dos direitos de detentos, afirma que o sistema judicial russo foi completamente transformado. Segundo ela, pessoas acusadas de crimes graves podem ser presas, mas têm a opção de ingressar no serviço militar, o que suspende os processos legais em andamento contra elas.
Segundo a reportagem, as táticas de recrutamento do exército russo mudaram para suprir as lacunas causadas pelas altas baixas. Antes voltadas apenas para condenados, agora incluem pessoas que estão apenas sendo acusadas de crimes, destacando a urgência por soldados em meio aos conflitos atuais.
Três advogados que atuam na Rússia confirmaram à BBC que essa “opção” de alistamento se tornou uma prática comum no país.