Jornalista francesa é detida por reportar operação de espionagem no Egito

Ariane Lavrilleux divulgou documentos vazados que afirmavam que a inteligência francesa foi usada para prejudicar civis

Na terça-feira (19), agentes da DGSI, a agência de inteligência doméstica da França, realizaram uma busca na residência da jornalista Ariane Lavrilleux e a detiveram para interrogatório. As informações são da rede France24.

O incidente foi imediatamente considerado um ataque ao sigilo das fontes, sendo essa opinião compartilhada tanto pela Sociedade de Jornalistas Profissionais (SPJ, da sigla em inglês) quanto pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que manifestou preocupação com o risco de violação da confidencialidade do profissional de imprensa.

A prisão de Lavrilleux foi confirmada à agência de notícias AFP por uma fonte ligada ao caso. Em novembro de 2021, o site de investigação Disclose publicou uma série de artigos baseados em documentos secretos. Esses artigos alegavam que informações de uma operação francesa de contraespionagem no Egito, chamada “Sirli”, foram usadas pelo governo egípcio para realizar execuções não justificadas de contrabandistas que operavam na fronteira com a Líbia.

Ariane Lavrilleux (Foto: Facebook/reprodução)

Os primeiros artigos do Disclose sugeriram que as forças francesas estavam envolvidas em pelo menos 19 atentados com explosivos contra contrabandistas entre 2016 e 2018 na região. Os documentos revelaram que, embora tenha havido alertas de funcionários do governo francês, a operação não foi questionada.

A advogada de Ariane Lavrilleux e do Disclose, Virginie Marquet, expressou consternação com a crescente hostilidade contra a liberdade de imprensa e as medidas coercivas aplicadas ao jornalista. Ela também destacou que a busca realizada representa “uma ameaça significativa à confidencialidade das fontes dos jornalistas”, argumentando que Lavrilleux apenas divulgou informações de interesse público.

Após a publicação do artigo, o Ministério das Forças Armadas da França apresentou uma queixa por “violação do segredo de defesa nacional”, resultando na abertura de um caso em julho de 2022 pelo Ministério Público de Paris, que posteriormente foi entregue à DGSI.

Os contrabandistas que atuam na fronteira do Egito com a Líbia geralmente estão envolvidos no tráfico de mercadorias, como armas e bens ilegais, bem como no contrabando de pessoas. O governo local costuma tomar medidas enérgicas contra eles, incluindo operações militares e de segurança, o que pode incluir ações letais em alguns casos.

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