No ar há menos de cinco meses, a emissora independente Dozhd TV (“Chuva TV”, em tradução literal), último canal de televisão independente da Rússia, foi fechada na Letônia. A decisão partiu do Conselho Nacional de Mídia Eletrônica de Massa (NEPLP), que, citando ameaças à segurança nacional e à ordem pública, decidiu cancelar nesta terça-feira (6) a licença de transmissão da emissora. As informações são da rede BBC.
A Dozhd TV foi acusada de cometer uma série de violações no país. Entre elas, a de não fornecer a programação em idioma nacional nas transmissões, retratar a Crimeia como parte do território russo e chamar as forças russas de “nosso exército”.
“Avaliando as violações como um todo, o NEPLP está convencido de que a liderança da Dozhd TV não entende ou não está ciente da gravidade das violações”, disse ele. “Por esta razão, não pode operar em território letão”, disse Ivars Abolins, presidente do órgão regulador letão.
As transmissões, que chegavam ex-república soviética pela televisão a cabo, que possui grande população de língua russa, devem ser encerradas a partir de quinta-feira (8). Nas redes sociais, o canal classificou as acusações de de “injustas e absurdas”, mas disse que irá cumprir a ordem e seguirá no YouTube, onde se concentra a maior parte dos seu espectadores.
A Dozhd TV é crítica ao presidente Vladimir Putin e ao Kremlin. Ela havia sido bloqueada na Rússia no início de março, logo após o início da invasão militar na Ucrânia, sendo ainda rotulada como “agente estrangeiro”. As operações foram suspensas devido a uma “desarmonia” jornalística com a narrativa oficial do governo da Rússia sobre a guerra.
A decisão desagradou o principal nome de oposição na Rússia e seus apoiadores, que criticaram a decisão, argumentando que a Dozhd TV é um veículo independente importante para povos de língua russa em tempos de guerra.
“Existe Putin, que começou a guerra. Existe a TV Rain, que conta a verdade sobre Putin e sobre a guerra. Tirar a licença da TV Rain só ajuda Putin”, disse Kira Yarmysh, assessora de imprensa do líder da oposição preso, Alexei Navalny.
Quem também desaprovou a interrupção das operações foi a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que definiu a medida como um “sério golpe na liberdade de informação”.
No início de dezembro, o NEPLP aplicou uma multa de 10 mil euros (aproximadamente R$ 55 mil) após o canal exibir um mapa em que mostrava a Crimeia ocupada como sendo parte do território russo.