Mãe de Navalny revela pressão por funeral secreto para ‘não atrapalhar eleições’ na Rússia

Lyudmila Navalnaya rejeitou qualquer negociação, insistindo no cumprimento da lei russa para que o corpo do filho seja entregue à família

A mãe do político e ativista russo Alexei Navalny denunciou na quinta-feira (22) que está sendo pressionada por autoridades russas para realizar um funeral secreto, após ser autorizada a ver o corpo do filho. Em declaração nas redes sociais, Lyudmila Navalnaya disse que rejeitou a proposta e pede que todos que admiravam Navalny tenham a oportunidade de se despedir “adequadamente”. As informações são do site The Moscow Times.

“Eu não vou concordar com isso. Quero que todos vocês que amam Alexei, e para quem sua morte foi uma tragédia pessoal, tenham a chance de se despedir”, disse ela em um vídeo publicado na conta de Yulia Navalnaya, viúva do ativista, no X, antigo Twitter.

Na última sexta-feira (16), Navalny morreu após “se sentir mal” e desmaiar quando caminhava no pátio da colônia penal IK-3, localizada cerca de 1,9 mil quilômetros a leste de Moscou. Ele cumpria pena de 30 anos de prisão em um centro de detenção no Ártico e com frequência reclamava do tratamento que recebia no cárcere, alegando inclusive que sua saúde estava debilitada por isso.

Desde a morte de Navalny, Lyudmila relatou que os investigadores estão condicionando a liberação do corpo e fazendo “chantagens”, dizendo que “o tempo não está do seu lado” e que “o cadáver está se decompondo”. Nesta semana, a família e advogados do ativista foram informados sobre um exame químico de duas semanas para determinar a causa da morte.

O oposicionista russo Alexei Navalny, com tinta no rosto, durante sua campanha à presidência em 2018 (Foto: Evgeny Feldman/ Wikimedia Commons)

“De acordo com a lei, eles deveriam ter me entregado o corpo de Alexei imediatamente, mas em vez disso, estão me chantageando e impondo condições sobre onde e como Alexei deve ser enterrado”, afirmou Navalnaya no vídeo. “Os investigadores foram diretos: ‘O tempo não está ao seu lado, o corpo está se decompondo'”, acrescentou ela.

A porta-voz de Navalny, Kira Yarmysh, afirmou na quinta que a certidão de óbito, que foi assinada por Lyudmila na noite de quarta-feira (21), indicava que o ativista de 47 anos faleceu por “causas naturais”.

Kira ainda revelou que um investigador deu um ultimato à mãe de Navalny na quarta-feira: ou ela aceitava um funeral secreto sem uma despedida pública, ou ele seria enterrado na colônia prisional.

Uma fonte próxima ao Kremlin revelou à reportagem do The Moscow Times nesta semana que autoridades estão debatendo maneiras de evitar que o luto e o funeral de Navalny se tornem uma “manifestação política” e prejudiquem a eleição de Vladimir Putin. O pleito na Rússia será realizado em março.

“Diversas opções foram propostas, incluindo uma bastante cínica de não liberar o corpo para os parentes até depois da eleição”, afirmou a fonte.

Na quarta, Lyudmila iniciou uma ação legal em um tribunal russo exigindo a liberação do corpo de seu filho. Uma audiência a portas fechadas sobre a queixa está agendada para 4 de março, segundo informações da rede Radio Free Europe.

Um dia antes, ela postou um vídeo nas redes sociais, filmado do lado de fora da prisão conhecida como “Lobo Polar”, onde Navalny estava detido desde dezembro, fazendo um apelo a Putin por ajuda. “A resolução desse problema depende apenas de você”, disse ela ao presidente.

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