Mais de 3,2 mil civis morreram na Ucrânia desde o começo da guerra, diz ONU

Principais causas das baixas foram explosões, incluindo ataques aéreos, bombardeios de artilharia pesada e sistemas de foguetes

Passados 67 dias desde o começo do conflito na Ucrânia, ocorrido em 24 de fevereiro, os dados oficiais indicam que 3.238 civis morreram e 3.397 ficaram feridos. Os números foram atualizados na terça-feira (3) pelo ACNUDH (Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos).

Do total de mortos, 1.162 são homens, 738 mulheres, 71 meninas e 84 meninos. Há ainda 72 crianças e 1.111 adultos cujo sexo não foi identificado. Entre os feridos, 424 são homens, 337 mulheres, 71 meninas e 82 meninos. Há mais 169 crianças e 2.314 adultos cujo sexo ainda é desconhecido.

Maioria das vítimas perdeu a vida em explosões (Foto: Ukraine NOW/Reprodução Telegram)

O escritório de direitos humanos também divulgou um levantamento feito nas regiões de Donetsk e Luhansk, onde foram registradas 3.352 vítimas (1.700 mortos e 1.652 feridos); em território controlado pelo governo, onde há 2.859 vítimas (1.599 mortos e 1.260 feridos); e em território de dominado pelas autoproclamadas repúblicas, onde foram contabilizadas 493 baixas (101 mortos e 392 feridos).

Em outras regiões da Ucrânia – a cidade de Kiev e as regiões de Cherkasy, Chernihiv, Kharkiv, Kherson, Kyiv, Mykolaiv, Odesa, Sumy, Zaporizhzhia, Dnipropetrovsk, Poltava, Rivne, Vinnytsia e Zhytomyr –, que estavam sob controle do governo quando ocorreram mortes, a estatística aponta 3.283 vítimas (1.538 mortos e 1.745 feridos).

A maioria das vítimas civis registradas foi alvo de armas explosivas com uma ampla área de impacto, incluindo bombardeios de artilharia pesada e sistemas de foguetes de lançamento múltiplo, mísseis e ataques aéreos.

“Dezenas de milhões de pessoas permanecem no país, em perigo potencialmente mortal. Estou profundamente preocupada que a atual escalada das operações militares aumente ainda mais os danos que eles enfrentam”, disse Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para os Direitos Humanos

Ela acrescentou que milhares de pessoas, incluindo idosos, mulheres grávidas, crianças e pessoas com deficiência, estão sendo forçadas a se reunir em abrigos subterrâneos e estações de metrô para escapar das explosões.

O ACNUDH estima que os números reais sejam bem maiores, já que o recebimento de informações de alguns locais onde ocorreram ataques intensos foi adiado e muitos relatórios ainda aguardam confirmação. Isso diz respeito, por exemplo, a Mariupol (na região de Donetsk), Izium (região de Kharkiv) e Popasna (região de Luhansk), onde há alegações de inúmeras vítimas civis.

O massacre de Bucha

A pressão global por punições à Rússia, a suas tropas e ao presidente Putin aumentou consideravelmente depois que os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.

Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.

Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Mais recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de crimes.

Civis mortos nas ruas de Bucha cidade ucraniana (Foto: reprodução/Twitter)

Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas, essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.

“O maior crime de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedir o genocídio”.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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