Militar ucraniano fala em ‘corrupção’ ou ‘traição’ ao relatar avanço fácil das tropas da Rússia

Tropas de Moscou entram em Kharkiv sem sofrer resistência, e comandante a acusa Kiev de falhar na proteção a seu território

Nos últimos dias, as tropas da Rússia obtiveram importantes vitórias na região de Kharkiv. Cerca de cem quilômetros de território, em uma área onde Kiev lutou duro para repelir a invasão nos primeiros meses de guerra, em 2022, estariam novamente sob o controle de Moscou. Segundo um militar ucraniano ouvido pela rede BBC, o avanço foi conquistado praticamente sem reação das Forças Armadas da Ucrânia, o que pode indicar “negligência”, “corrupção” ou “traição”.

Denys Yaroslavsky comandou uma unidade especial de reconhecimento das tropas ucranianas em 2022 em Kharkiv, conseguindo na ocasião expulsar os invasores e retomar território conquistado pelos russos nos primeiros meses de conflito. Agora, devido às recentes derrotas, podem ser forçados a ter que repetir a ação.

Soldados das Forças Armadas da Rússia (Foto: facebook.com/mod.mil.rus)

“Não havia primeira linha de defesa. Nós vimos isso. Os russos simplesmente entraram. Eles simplesmente entraram, sem nenhum campo minado”, disse o militar. “Ou foi um ato de negligência ou de corrupção. Não foi um fracasso. Foi uma traição.”

Para justificar suas alegações, ele mostrou um vídeo feito por um drone que mostra os russos entrando em Kharkiv através da linha de fronteira sem qualquer resposta militar. Moscou fortaleceu a alegação ao celebrar a recente conquista da cidade de Vovchansk, em Kharkiv, perto da divisa entre os dois países, algo que Kiev negou em um primeiro momento.

A ofensiva russa na área não pegou ninguém de surpresa. Os serviços de inteligência tanto da Ucrânia quanto de aliados ocidentais sabiam que a Rússia vinha preparando cerca de 30 mil homens para atacar, e o presidente russo Vladimir Putin externou o objetivo de criar ali uma zona de segurança que, ao afastar os ucranianos, dificultaria bombardeios dentro do território russo.

Tropas desarmadas

À parte a denúncia de Yaroslavsky, as tropas da Ucrânia sofrem com a falta de munição, fruto sobretudo da interrupção da ajuda dos EUA. Os parlamentares norte-americanos já aprovaram a retomada do fornecimento de armas, com um pacote de US$ 95 bilhões destinado não apenas a Kiev, mas em menor escala a Taiwan e Israel. O poder de fogo russo, porém, é bastante superior à resistência ucraniana.

O general Christopher Cavoli, principal autoridade militar norte-americana na Europa, disse no mês passado que naquela oportunidade Moscou tinha uma vantagem de cinco para um em relação a Kiev no número de disparos. Ou seja, a cada cinco tiros russos havia apenas um ucraniano.

“Isso irá imediatamente para dez contra um em questão de semanas”, projetou na oportunidade o chefe do Comando Europeu das Forças Armadas dos EUA, uma avaliação que mais tarde foi repetida por mais autoridades ocidentais e mesmo ucranianas.

Apesar da desvantagem, o governo ucraniano insiste que a região de Kharkiv não está ameaçada. Uma avaliação com a qual Yaroslavsky não concorda. Segundo ele, Moscou não apenas tentará conquistar Khakiv, mas toda a área de Donbass, que foi anexada parcialmente em 2014 após um levante separatista apoiado por Moscou.

E a operação russa, de acordo com o militar, já começou. Yaroslavsky afirma que a situação atual é um desrespeito aos soldados e civis que perderam a vida durante a retomada da área logo após o início da guerra atual.

“Quando lutamos por este território em 2022, perdemos milhares de pessoas. Arriscamos nossas vidas”, disse ele. “E agora, porque alguém não construiu fortificações, estamos perdendo pessoas novamente.”

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