Lituânia desaconselha seus cidadãos a comprarem telefones celulares chineses

Após um ano de investigações, órgão de cibersegurança afirma ter encontrado "riscos de segurança de dados cibernéticos e pessoais"

O Ministério da Defesa da Lituânia pediu que a população descarte seus telefones celulares fabricados na China e recomendou que não comprem novos aparelhos de empresas do país asiático. A declaração foi feita nesta terça-feira (21) pelo órgão governamental, com base em um relatório do Centro Nacional de Cibersegurança.

Foram analisados smartphones 5G das empresas Xiaomi, Huawei e OnePlus. O governo, após um ano de investigações, afirma ter encontrado “alguns riscos de segurança de dados cibernéticos e pessoais”.

Segundo o órgão de cibersegurança, os aparelhos comercializados na Europa pela gigante Xiaomi identificam nas atividades do usuário questões políticas e territoriais delicadas da China e têm recursos para descobrir e censurar frases em caracteres chineses, incluindo “Tibete livre“, “Viva a independência de Taiwan“, “movimento pela democracia” e “viva a América”. Ao todo, cerca de 450 termos foram encontrados.

Segundo governo, aparelhos das bigtechs chinesas promovem coleta excessiva de informações do usuário (Foto: Geek Kazu/Flickr)

“Nossa recomendação é não comprar novos telefones chineses e nos livrar dos já comprados o mais rápido possível”, disse o vice-ministro da Defesa, Margiris Abukevičius.

As capacidades do software do telefone Mi 10T 5G da Xiaomi foram desativadas na “região da União Europeia”, mas podem ser ativadas remotamente a qualquer momento, de acordo com o relatório do Centro Nacional de Segurança Cibernética do Ministério da Defesa.

Outra bigtech, a Huawei, também foi colocada em xeque. O relatório dissecou o modelo Huawei P40 5G e afirma ter encontrado risco de cibersegurança na AppGallery, a loja de apps nativa, que “direciona os usuários a lojas virtuais de terceiros, onde alguns dos aplicativos foram avaliados por programas antivírus como maliciosos ou infectados com vírus”.

“Em nossa opinião, trata-se de uma coleta excessiva de informações sobre as atividades do usuário”, sintetizou Abukevičius.

O site Politico Europe repercutiu a resposta da Xiaomi diante das acusações do governo da Lituânia. Segundo a empresa, “os dispositivos da Xiaomi não censuram as comunicações de ou para seus usuários. A Xiaomi nunca restringiu e nunca irá restringir ou bloquear qualquer comportamento pessoal de nossos usuários de smartphones, como pesquisa, chamada, navegação na web ou o uso de software de comunicação de terceiros. A Xiaomi totalmente respeita e protege os direitos legais de todos os usuários. A Xiaomi cumpre o Regulamento Geral de Proteção de Dados da União Europeia (GDPR)”, disse o comunicado.

Por que isso importa?

As relações entre os países pioraram em agosto, quando a China anunciou que decidiu chamar de volta seu embaixador na Lituânia bem como exigiu que o governo lituano fizesse o mesmo com seu representante em território chinês. 

O inconveniente diplomático ocorreu após o sinal verde do país báltico à abertura de uma embaixada de Taiwan, que Beijing considera uma de suas províncias. Em julho, Taiwan comunicou a instalação de um departamento de representação em Vilnius, capital da Lituânia, chamado “Escritório de Representação de Taiwan”.

Foi a primeira vez que o nome da ilha foi usado para nomear um de seus escritórios na Europa em vez de “Taipé Chinês”, nome dado para a capital da ilha que governa a si mesma desde o fim da guerra civil em 1949.

Os chineses consideram a ilha autônoma como sua questão territorial mais sensível e manifestam irritação com qualquer movimento que sugira que o território seja um país independente. 

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