Polícia de Moscou detém cinco crianças em protesto contra a invasão da Ucrânia

Grupo de mães, com crianças entre 7 e 11 anos, jogou flores em frente à Embaixada da Ucrânia e levou cartazes contra a guerra

A polícia de Moscou prendeu duas mulheres e cinco crianças que foram até o prédio da Embaixada da Ucrânia depositar flores como forma de protestar contra a guerra, na última terça-feira (1º). As informações são do site independente The Moscow Times.

Imagens das crianças em um camburão e na delegacia foram divulgadas no Twitter por Ilya Yashin, um político local que faz oposição ao governo Putin. “Nada fora do comum: apenas crianças em camburões atrás de um pôster antiguerra. Esta é a Rússia de Putin, pessoal. Você vive aqui”, diz ele no post.

De acordo com a pesquisadora russa Alexandra Arkhipova, as crianças têm entre 7 e 11 anos de idade e, além das flores, levavam cartazes de protesto desenhados por elas mesmas. “Os policiais gritavam com as mães e ameaçavam colocar seus filhos sob os cuidados do Estado, tirando delas os direitos sobre os filhos”, disse Arkhipova.

Ainda de acordo com a pesquisadora, que é antropóloga da Ranepa (Academia Presidencial Russa de Economia Nacional e Administração Pública), a maior universidade pública de Moscou, as mães e as crianças foram libertadas horas depois. Posteriormente, serão julgadas.

Criança detida em Moscou por protestar contra a guerra na Ucrânia (Foto: reprodução/Twitter)

Por que isso importa?

Desde o início da guerra, o Kremlin intensificou os alertas à população sobre o risco de protestar. Em sua página oficial, o Comitê de Investigação da Rússia afirmou em tom de ameaça: “Ao responder a apelos provocativos, deve-se estar ciente das consequências jurídicas negativas dessas ações na forma de persecução ou até responsabilidade criminal”.

Alexei Navalny, o principal oposicionista do presidente russo Vladimir Putin, afirmou na quarta-feira (2) que, desde o início da guerra, mais de seis mil pessoas haviam sido detidas pelas autoridades russas por protestarem contra a invasão da Ucrânia.

repressão não é novidade, vez que o Kremlin já vinha silenciando a oposição nos últimos anos. Tem usado inclusive a pandemia de Covid-19 como desculpa para impedir protestos coletivos, sob a justificativa de que oferecerem riscos à saúde pública. Muitos aliados de Navalny estão entre as pessoas que foram processadas ou presas sob tais acusações, após protestarem contra Putin.

Entretanto, as ameaças não parecem incomodar Navalny. Ao contrário, têm servido como motivação. Ao citar os números de detidos desde o início da guerra, o oposicionista convocou não apenas os russos, mas cidadãos de todos os países, a irem às ruas contestar a invasão da Ucrânia pelas tropas russas. Mesmo que, no caso dos cidadãos da Rússia, isso eventualmente os leve à prisão.

“Se, para acabar com a guerra, temos que encher as prisões e os camburões com nós mesmos, então encheremos as prisões e os camburões com nós mesmos”, disse Navalny através de seus porta-vozes. “Tudo tem um preço. E, agora, na primavera de 2022, devemos pagar esse preço. Não há ninguém para fazer isso por nós. Não vamos ‘ser contra a guerra’. Vamos lutar contra a guerra”.

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