Com mais de 6 mil detidos, Navalny convoca protestos e chama Putin de ‘insano’

Oposicionista pede que russos enfrentem autoridades e sejam presos, se necessário for, para manifestarem sua opinião

Alexei Navalny, o principal opositor do presidente russo Vladimir Putin, convocou os cidadãos da Rússia e de outros países a realizarem manifestações públicas diárias de oposição à guerra na Ucrânia. As informações são da agência Reuters.

“Não podemos esperar mais. Onde quer que esteja, na Rússia, em Belarus ou do outro lado do planeta, vá à praça principal da sua cidade todos os dias da semana, e às 14h nos fins de semana e feriados”, disse ele em post publicado no Twitter por seus porta-vozes.

Desde o início da guerra, de acordo com o oposicionista, 6824 pessoas foram detidas pelas autoridades russas por protestarem contra a invasão da Ucrânia. Para Navalny, esse é um preço razoável a se pagar. “Pelo menos não vamos nos tornar uma nação de pessoas silenciosas e assustadas. De covardes que fingem não notar a guerra agressiva contra a Ucrânia desencadeada por nosso czar obviamente insano”, disse ele.

Alexei Navalny, oposicionista do presidente Vladimir Putin (Foto: reprodução/Instagram)

A repressão não é novidade, vez que o Kremlin já vinha silenciando a oposição nos últimos anos, usando inclusive a pandemia de Covid-19 como desculpa para impedir protestos coletivos. O próprio Navalny foi uma vítima e está preso desde janeiro de 2021, após retornar da Alemanha, onde se recuperou de um envenenamento orquestrado pelo governo russo.

“Se, para acabar com a guerra, temos que encher as prisões e os camburões com nós mesmos, então encheremos as prisões e os camburões com nós mesmos”, disse Navalny. “Tudo tem um preço. E, agora, na primavera de 2022, devemos pagar esse preço. Não há ninguém para fazer isso por nós. Não vamos “ser contra a guerra”. Vamos lutar contra a guerra”.

Quem é Navalny?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A principal plataforma do oposicionista é o combate à corrupção no governo Putin, em virtude da qual ele cobra uma profunda reforma na estrutura política do país.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido ainda no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua fundação anticorrupção, a FBK, de funcionarem, classificando-as como “extremistas”.

Em agosto do ano passado, a Justiça russa abriu uma nova acusação criminal contra o oposicionista, o que poder ampliar a sentença de prisão dele em três anos. Ele foi acusado de “incentivar cidadãos a cometerem atos ilegais”, por meio da FBK que ele criou.

Já em setembro de 2021, uma terceira acusação, por “extremismo”, ameaça estender o encarceramento por até uma década, sendo mantido sob custódia no mínimo até o fim da próxima eleição presidencial, em 2024, quando chega ao fim o atual mandato de seis anos de Vladimir Putin no Kremlin.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esporte, cinema e música.

De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.

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