Cédulas e moedas de rublo viram ferramenta de campanha antiguerra na Rússia

Movimento é uma forma de manter acesa a chama da insatisfação diante da repressão que impede protestos nas ruas do país

Um jeito diferente de protestar contra a invasão à Ucrânia surgiu na Rússia: as cédulas e moedas de rublos viraram uma espécie de cards antiguerra. Como as ruas têm sido um lugar perigoso para manifestações pacíficas, já que a polícia tem feito milhares de prisões baseadas em uma nova lei que pune quem desacreditar publicamente as forças armadas, o dinheiro com mensagem virou uma tendência entre os críticos às ações do Kremlin. As informações são da revista Newsweek.

O fenômeno tem sido compartilhado em plataformas como Twitter, Telegram e Reddit. As mensagens são normalmente escritas à mão, sendo as frases mais comuns “não à guerra” e “russos contra a guerra”. O protesto tem sido uma maneira de manter acesa a chama da insatisfação popular de forma anônima, evitando que o manifestante vire parte da estatística de mais de 15 mil cidadãos presos até agora por contrariarem o conflito com os vizinhos, segundo a OVD-Info, organização de direitos humanos que monitora as prisões na Rússia.

(Foto: Fem Antiwar Resistance/Reprodução Twitter)

A Resistência Feminista Antiguerra (FAS) é um dos principais articuladores desse tipo de abordagem. O grupo, criado em fevereiro durante o turbulento período pré-invasão, quando o presidente Vladimir Putin ainda movimentava tropas na fronteira com Belarus, vem instigando a população a denunciar a guerra por meio de manifestações pacíficas. Recentemente, a FAS também passou a militar em seu canal no Telegram.

“As fotos em nosso canal são reais, nós as recebemos dos participantes do nosso movimento, que escrevem as mensagens nas próprias notas”, disse um membro da organização à reportagem.

Kevin Rothrock, editor-chefe do site investigativo independente Meduza, baseado na Letônia, comentou os esforços da Resistência Feminista Antiguerra. “Um grupo ativista na Rússia está pedindo às pessoas que escrevam mensagens contra a guerra em seus rublos, na esperança de desencadear um movimento generalizado que é difícil de policiar”, escreveu o jornalista em sua conta no Twitter, acrescentando que a campanha buscou inspiração em protestos semelhantes no Turcomenistão.

A FAS também usou o Twitter para dar dicas sobre como pintar uma mensagem antiguerra em moedas de rublo. A técnica consiste em usar “pincel fino, acrílico, verniz acrílico, em movimentos cuidadosos de cima para baixo”, além de “não usar muito verniz no pincel, para que as moedas não grudem depois.”

O grupo também observou em outro tweet que a moeda marcada ainda é considerada legal e bancos e empresas devem aceitá-la, independentemente da mensagem contida.

(Foto: Fem Antiwar Resistance/Reprodução Twitter)

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esportecinema e música.

De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.

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