Novos problemas técnicos foram detectados em um módulo pertencente à Rússia na ISS (Estação Espacial Internacional, da sigla em inglês). As informações, confirmadas por um veterano agente do programa espacial russo, podem comprometer o funcionamento de uma parte da plataforma e reforçam a ideia de deterioração do programa espacial de Moscou.
Os primeiros problemas, detectados em setembro de 2019, apontavam para um vazamento de ar no módulo Zvezda, segundo a agência de notícias russa RIA Novosti. A Nasa (Administração Nacional Aeronáutica e Espacial, da sigla em inglês), agência espacial dos EUA, chegou a recomendar a evacuação do módulo, mas a contraparte russa Roscosmos investigou o caso e concluiu que não havia risco de acidentes.
“É verdade que o estado atual do segmento russo da ISS suscita alguma preocupação. Tudo começou não com uma fissura, mas com a falha de todos os três computadores de bordo no segmento russo alguns anos atrás”, disse Vladimir Soloviev, diretor de voo do segmento russo da ISS. “No final, eu até tive que assinar documentos para a Nasa com garantias de operacionalidade do módulo”.
Um problema mais recente, de janeiro deste ano, mostra um orifício com diâmetro de 0,2 milímetro, que faz a pressão do ar cair 0,4 milímetro de mercúrio por dia. Trata-se de um número bem inferior aos valores de emergência, de 0,5 milímetro por minuto. Ainda assim, é necessário pressurizar constantemente a cabine com nitrogênio e oxigênio, que são transportados da Terra com frequência.
Em meio aos problemas, a Rússia iniciou o projeto para criar uma nova estação orbital. “Esperamos receber recursos e iniciar o projeto conceitual da estação a partir de janeiro de 2022”, confirmou Soloviev, destacando ainda que o segmento russo na ISS deve ser preservado pelo menos até 2030.
Por que isso importa?
O programa espacial da Rússia tem se afundado em fraudes. Entre elas, um esquema de desvio de milhões de dólares durante a construção do novo cosmódromo (base de lançamento espacial) de Vostochny, no Extremo Oriente, instalação que os russos projetavam como maior trunfo da Roscosmos .
O próprio Kremlin estima que 11 bilhões de rublos (cerca de R$ 780 milhões), mais de 10% do valor destinado a Vostochny, foram roubados. Várias autoridades envolvidas no projeto foram presas.
Em meio ao escândalos, e sob a alegação de proteger os interesses nacionais, a FSB (Agência de Segurança Federal, da sigla em inglês) organizou uma lista contendo informações militares proibidas para estrangeiros, que inclui dados da Roscosmos.
A lista contém 61 itens, incluindo informações confidenciais sobre problemas que “prejudicam o desenvolvimento” da agência, programas-alvo, financiamentos e prazos, além de dados sobre as condições técnicas e prontidão dos cosmódromos e outras instalações espaciais.