A União Europeia (UE) enfrenta um dos impasses mais delicados desde o início da guerra na Ucrânia: como garantir novos recursos para Kiev em 2026 e 2027. O bloco apostava em um empréstimo de 140 bilhões de euros lastreado em ativos russos congelados na Bélgica, mas o veto de Bruxelas abriu um corredor de incertezas em torno do financiamento e expôs a fragilidade das alternativas disponíveis. As informações são do The New York Times.
O plano, que utilizaria valores pertencentes ao banco central russo como garantia, deveria ter avançado na reunião política do mês passado. No entanto, a Bélgica bloqueou a iniciativa, alegando receio de enfrentar ações judiciais da Rússia e de ter de responder sozinha caso o Kremlin exija a devolução dos fundos. Para apoiar o projeto, o país exige que outras nações ofereçam garantias conjuntas, ponto rejeitado pela Eslováquia.

Sem consenso, a Comissão Europeia enviou nesta semana uma carta aos Estados-membros com alternativas. Entre elas, a emissão de dívida conjunta e doações diretas dos países à Ucrânia. Ambas são consideradas soluções problemáticas: o endividamento elevaria custos com juros, enquanto as doações pressionariam orçamentos já sobrecarregados.
Apesar dos entraves, diplomatas e analistas em Bruxelas afirmam que o plano original segue como a opção mais viável. Para eles, outras rotas entregariam menos dinheiro, de forma mais lenta, e poderiam reforçar a percepção do presidente russo, Vladimir Putin, de que o tempo favorece o Kremlin.
A tensão aumentou após a Rússia emitir novos alertas de retaliação à Bélgica caso os ativos congelados sejam usados. Embora a UE insista que utilizá-los como garantia não equivale a confisco, Moscou rejeita essa interpretação. A própria Comissão reconhece que a medida pode ser “percebida de forma equivocada” pelos mercados internacionais.
O FMI estima que o déficit orçamentário da Ucrânia pode chegar a 65 bilhões de dólares entre 2026 e 2027. Autoridades da UE calculam que Kiev precisará de novos recursos já entre março e abril, o que pressiona as negociações antes da próxima reunião de líderes europeus, marcada para 18 de dezembro.
O cenário doméstico belga também pesa: o governo do primeiro-ministro Bart De Wever enfrenta dificuldades para aprovar o orçamento nacional e corre risco de colapso até o fim do ano.
Há expectativa de um possível apoio externo. Economistas noruegueses defendem que a Noruega – que não integra a UE, mas é economicamente ligada ao bloco e beneficiada pelo aumento das receitas de energia – participe das garantias. Parlamentares noruegueses se mostram abertos, embora o país rejeite assumir o risco sozinho.
Com as negociações travadas, o bloco corre contra o tempo para encontrar uma solução capaz de sustentar a Ucrânia sem abrir uma crise financeira ou política dentro da própria UE.