Protestos em Belarus continuarão até a queda de Lukashenko, diz ativista

Para líder da ONG de apoio a manifestantes, população aderiu de vez aos protestos após cenas de violência

por Cristiane Noberto

“A sociedade belarrussa se uniu e só vai parar quando [o presidente Alexander] Lukashenko renunciar”, afirmou Alexey Leonchik, fundador da maior organização humanitária de Belarus, a BY Help, durante encontro virtual, nesta terça (9).

De acordo com o ativista, os protestos após as eleições de agosto de 2020 conquistaram maior aderência da sociedade do que em outras ocasiões. Para Leonchik, todas as classes sociais e o influente setor de tecnologia se uniram contra Lukashenko.

“O discurso é o mesmo desde quando [o presidente] foi eleito nos anos 1990: restaurar a economia da União Soviética no país, manter o Estado unido, evitar que nacionalistas separem o território. Só que esse discurso não tem mais força hoje em dia”, disse

Leonchik avalia que, no ano passado, quando fotos e vídeos de violência policial e tortura contra manifestantes viralizaram nas redes sociais, a resposta dos belarussos foi uma intensa mobilização.

“Pessoas de todas as classes saíram às ruas. Houve confrontos muito fortes com operários, eles chegaram até mesmo a afugentar policiais com barras de metal. O contrato social que legitimava o discurso de Lukashenko foi quebrado”, lembra. 

Oposição expatriada

Seis meses após as eleições em Belarus, ativistas do país promovem seminários online por todo o mundo para defender a causa dos manifestantes contra o atual governo, no poder desde 1994.

Alexey Leonchik em reunião virtual promovida pela Embaixada Popular da Belarus no Brasil em fevereiro de 2021

Ainda segundo o ativista, sociólogos no exterior estimam que cerca de 25% da população apoia Lukashenko. Contudo, seria uma “camada formada por pessoas com pouca instrução, acomodadas em suas posições”. 

Leonchik ainda afirmou que as manifestações continuarão. “Os protestos podem ter diminuído por conta do inverno, do coronavírus e do estado emocional das pessoas. Mas temos a pretensão de retornar na primavera. As pessoas estão indignadas com tudo isso. Essa situação é definitiva e não há mais como voltar a ser o que era antes”, conclui.

Alexey Leonchik em exílio na Polônia, em fevereiro de 2021 (Foto: arquivo pessoal/Facebook)

De acordo com Leonchik, as contas da campanha da BY Help contra o governo chegaram a ser bloqueadas. Ele e outros membros da organização estão exilados em países vizinhos. O ativista ainda é réu em dois processos promovidos pelo governo por suposto “financiamento de grupos terroristas”.

BY Help

A BY Help é considerada a maior campanha de caráter humanitário de Belarus. A iniciativa foi criada em 2017 para ajudar jornalistas que tiveram equipamentos quebrados ou confiscados por forças do governo. 

A partir das eleições de 2020, o objetivo mudou. O grupo agora arrecada fundos para financiar e subsidiar multas, advogados e despesas médicas dos manifestantes belarussos.

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