Putin atribui inteligência na Ucrânia ao mentor do envenenamento de Skripal

Vladimir Alekseev é nascido na Ucrânia, tido como militar linha-dura e acusado pela terra natal de uma série de crimes de guerra

O presidente russo Vladimir Putin anunciou uma importante mudança nas operações de inteligência do país na guerra na Ucrânia. Antes atribuída à FSB (Agência Federal de Segurança), a tarefa passou para as mãos do GRU (Departamento Central de Inteligência da Rússia). E o encarregado será Vladimir Alekseev, acusado de orquestrar os envenenamentos do ex-espião Sergei Skripal e da filha dele, Yulia, na Inglaterra, em 2018. As informações são do jornal britânico Daily Mail.

O tenente general Alekseev, identificado pela emissora pró-Kremlin Tsargrad TV como novo chefe da espionagem russa na guerra, é tido como um militar linha-dura, com experiência em conflitos envolvendo a Rússia na Síria e na região de Donbass, no leste da Ucrânia.

Nascido na Ucrânia, o militar é acusado de uma série de abusos pela inteligência de seu país de origem. Um relatório de Kiev o classifica como “criminoso internacional nascido na Ucrânia, envolvido no massacre de crianças e mulheres sírias, que continua a servir fielmente ao regime de Putin e está diretamente envolvido na destruição de sua terra natal”.

Os espiões russos acusados de tentar assassinar o agente duplo Sergei Skripal são flagrados na cidade britânica de Salisbury, 2018 (Foto: Reprodução/Caption/Daily Mail)

De acordo com Irina Borogan e Andrei Soldatov, membros veteranos do think tank Centro de Análise de Políticas Europeias (CEPA, na sigla em inglês), de Washington, Alekseev e o GRU foram escolhidos porque Putin estava insatisfeito com a qualidade das informações nas quais a invasão da Ucrânia se baseou.

“Até agora, a Ucrânia era responsabilidade do 5º serviço da FSB”, dizem os analistas. “O desastroso início da guerra e a ausência de revoltas populares de falantes de russo, que Putin foi informado que ocorreriam, lançou uma sombra escura sobre o departamento”.

Em virtude do fracasso da espionagem russa, o general Sergei Beseda, da FSB, teria inclusive sido preso a mando de Putin, segundo o CEPA. Posteriormente, ele teria sido reconduzido à agência, mas apenas como uma manobra do presidente para maquiar as falhas da operação russa na Ucrânia.

Heróis da Rússia

Inicialmente, as acusações pelos envenenamentos ocorridos na cidade inglesa de Salisbury, em 2018, recaíram sobre a dupla de coronéis russos Alexander Mishkin e Anatoly Chepiga, ambos membros da Unidade 29155 do GRU. Em setembro do ano passado, o Reino Unido anunciou que um terceiro agente russo, Denis Sergeev, foi formalmente acusado.

Sergei Skripal morreu envenenado por novichok, uma substância neurotóxica desenvolvida pela União Soviética nas décadas de 1970 e 1980. Yulia e um agente de polícia britânico, Nick Bailey, também foram contaminados, mas conseguiram se recuperar. Já a cidadã britânica Dawn Sturgess acidentalmente morreu quatro meses depois, quando o namorado dela casualmente encontrou um frasco que parecia de perfume, mas continha o perigoso agente tóxico.

Em 2014, Putin condecorou Mishkin e Chepiga com o prêmio “Heróis da Rússia”, o mais importante do país, pela atuação em uma operação secreta na República Tcheca e Bulgária, possivelmente as explosões em depósitos de armamentos. Além da honraria, os espiões receberam apartamentos em áreas nobres de Moscou.

Registros telefônicos indicam que os agentes mantinham contato frequente com o gabinete do ministro Sergei Lavrov, que comanda o Ministério das Relações Exteriores da Rússia. Os contatos continuaram antes e depois do ataque a Skripal.

Os espiões também se reportam diretamente ao comandante do GRU Andrey Averyanov, de quem Chepiga chegou a ser convidado de honra em um casamento familiar. Averyanov teria, inclusive, ingressado na República Tcheca com a dupla de espiões no período em que ocorreram as explosões. Não há evidências da participação direta dele nos envenenamentos.

Por que isso importa?

Nos últimos anos, o governo russo foi acusado de coordenar uma série de envenenamentos de dissidentes. Em outro caso semelhante ao de Skripal, o ex-espião russo Alexander Litvinenko morreu envenenado por polônio, um elemento radioativo altamente tóxico, em 2006.

novichok, por sua vez, foi usado contra o político da oposição Alexei Navalny, que foi preso pelo governo russo em janeiro de 2021, no exato momento em que retornava da Alemanha após cinco meses de recuperação médica em função do envenenamento.

Em fevereiro do ano passado, um tribunal condenou Navalny a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, quando foi acusado de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente no período em que estava em coma pela dose tóxica.

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