Putin sinaliza que aceitaria encerrar a guerra se a Ucrânia cedesse as regiões ocupadas

Em encontro com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, líder russo se disse aberto a retomar as negociações de paz

O desgaste militar da Rússia na guerra da Ucrânia tem se acumulado, e o presidente Vladimir Putin dá seguidos sinais de que aceitaria negociar uma solução diplomática para o conflito. Mais um desses indicativos surgiu na recente conversa que ele teve por telefone com o líder turco Recep Tayyip Erdogan.

Ancara afirmou nesta quinta-feira (5) que Erdogan disse ao homólogo russo “que os apelos à paz e às negociações devem ser apoiados por um cessar-fogo unilateral e uma visão de uma solução justa”, segundo a agência Reuters.

O Kremlin também divulgou um comunicado com um balanço da conversa entre os dois presidentes, de acordo com o jornal independente The Moscow Times. E voltou a afirmar que aceitaria negociar a paz, desde que Kiev cedesse a Moscou as regiões ocupadas e formalmente anexadas de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhya.

“Putin confirmou novamente a abertura da Rússia a um diálogo sério, mediante a condição de as autoridades de Kiev cumprirem os requisitos bem conhecidos e reiterados de levar em conta as novas realidades territoriais”, diz o texto divulgado pelo governo russo.

Em dezembro, o líder russo já havia sinalizado que a diplomacia seria a melhor solução. Na ocasião, ele afirmou que, “cedo ou tarde, quaisquer partes em conflito sentam-se e fazem um acordo”. E acrescentou: “Quanto mais cedo essa percepção chegar àqueles que se opõem a nós, melhor. Nunca desistimos disso”.

Presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Turquia, Recep Erdogan, em junho de 2015 (Foto: WikiCommons)
Condições inaceitáveis

A Ucrânia já havia sugerido anteriormente que as condições impostas pelo inimigo são inaceitáveis. Em novembro do ano passado, Mykhailo Podolyak, conselheiro do líder ucraniano Volodymyr Zelensky, afirmou, inclusive, que seu país só negociaria com um eventual sucessor de Putin, alguém mais flexível que o atual líder.

“Importante: a Ucrânia nunca se recusou a negociar. Nossa posição negocial é conhecida e aberta. Primeiro, a FR (Federação Russa) retira as tropas da Ucrânia. Depois, todo o resto. Putin está pronto? Obviamente não. Por isso, somos construtivos em nossa avaliação: vamos conversar com o próximo líder da FR”, disse Podolyak na ocasião.

As condições militares atuais podem ter pesado para Moscou falar novamente em negociações de paz. As declarações surgem quatro dias após um ataque ucraniano ter matado ao menos 89 combatentes russos em uma instalação militar atingida nos primeiros minutos de 2023. O bombardeio ocorreu na cidade de Makiivka, na região anexada de Donetsk, e foi a mais mortífera admitida por Moscou até agora na guerra.

Inicialmente, a Rússia falou em 63 mortos, mas depois atualizou para 89. Já Kiev afirma que a quantidade de baixas é bem maior, perto de 400, embora ambas as alegações careçam de verificação independente. No ataque, Kiev usou o Sistema de Artilharia de Foguetes de Alta Mobilidade (Himars, na sigla em inglês), armamento repassado pelos EUA em junho de 2022.

O local atingido não abrigava soldados profissionais, e sim recrutas recentemente adicionados às fileiras no programa de mobilização estabelecido pelo presidente Vladimir Putin. A instalação também servia como um depósito de munição e armas, o que aumentou a intensidade da explosão.

Diante desse cenário, o Kremlin também usou a conversa com o presidente turco para criticar os EUA e seus aliados. “O lado russo enfatiza o papel destrutivo dos Estados ocidentais, bombeando o regime de Kiev com armas e equipamentos militares, fornecendo-lhe informações operacionais e alvos”, disse o comunicado.

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