O ex-primeiro-ministro Robert Fico, aliado de Vladimir Putin e conhecido por suas posições contrárias a Kiev, saiu vitorioso na corrida eleitoral parlamentar na Eslováquia. De volta ao cargo, ele agora deverá focar na formação de um governo de coalizão, algo que pode ter impacto negativo na ajuda ocidental à Ucrânia na guerra contra a Rússia. As informações são do jornal Financial Times.
Fico e seu partido de centro-esquerda, o Smer, conquistaram cerca de 23% dos votos, superando Michal Simecka, da sigla liberal Eslováquia Progressista, que alcançou cerca de 18%, de acordo com os resultados divulgados no domingo (1º). Simecka liderou as pesquisas de boca de urna no sábado (30).
No mesmo dia, Fico anunciou sua intenção de iniciar negociações com outros partidos para formar uma coalizão.”Estamos preparados e aprendemos com nossas experiências anteriores”, afirmou. Além disso, o político argumentou que os problemas enfrentados pelo povo eslovaco são “maiores do que os da Ucrânia”.
A vitória de Fico levanta preocupações em Washington e Bruxelas devido à sua postura anti-Ucrânia, semelhante à do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán. Fico se opôs a sanções contra a Rússia e questionou o apoio da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) à Ucrânia.
Orbán, que preside o Estado-membro da União Europeia (UE) de pior histórico de corrupção no setor público, parabenizou Fico pelo X, antigo Twitter, e destacou a importância de trabalhar com um “patriota”. Analistas alertam para um possível racha na Europa Oriental, enquanto Fico, igualmente envolto em casos de corrupção, ressurge politicamente após sobreviver às tentativas de ter sua imunidade parlamentar retirada.
Fico deixou o cargo de premiê em 2018 devido a protestos após o assassinato de um jornalista que investigava a corrupção. Agora, ele precisa formar alianças com os diversos partidos eslovacos para evitar um impasse parlamentar. Desde maio, a Eslováquia tem um governo tecnocrata, nomeado pela presidente Zuzana Caputová, após o colapso da coalizão anterior.
A Eslováquia é um país pequeno com afinidades históricas com a Rússia, e o tipo de coalizão que Robert Fico tentará formar não está claro. Segundo um artigo do jornal New York Times, pode ser que ele adote uma abordagem mais pragmática, semelhante à da primeira-ministra italiana de extrema-direita Giorgia Meloni, desde sua eleição no ano passado. No entanto, é notável a mudança comportamental de Bratislava, uma vez que foi o primeiro país a fornecer caças à Ucrânia.
A vitória de Fico, que levantou na campanha uma bandeira de suspensão de envios de armas ao país invadido e a atribuição de responsabilidade igual à guerra ao Ocidente e a Kiev, ilustra essa tendência. Ele combinou elementos de conservadorismo social, nacionalismo, retórica anti-LGBTQ e promessas de benefícios sociais generosos, demonstrando uma agenda antiliberal eficaz, principalmente em pequenas cidades e áreas rurais.