Rússia envia até soldados de muletas de volta à guerra e compromete o desempenho das tropas

Soldados feridos retornam ao campo de batalhas na Ucrânia como um esforço desesperado de Moscou para manter a ofensiva

Mesmo após perder mais de 800 mil soldados, entre mortos e feridos, nos três primeiros anos da guerra contra a Ucrânia, o exército da Rússia mantém cerca de 600 mil tropas na linha de frente, conferindo-lhe uma vantagem numérica nos principais setores do conflito. Entre eles, entretanto, há combatentes feridos, que não têm condições de desempenhar um papel eficiente no campo de batalhas. As informações são da revista Forbes.

Nos últimos meses, surgiram relatos alarmantes de comandantes russos enviando soldados que retornam ao combate inclusive de muletas. O 20º Exército de Armas Combinadas (EAC) formou grupos de assalto compostos por homens nessas condições, resultando em operações com resultados trágicos.

Imagens de drones ucranianos confirmaram a situação. Na região de Pokrovsk, cidade estratégica no leste ucraniano, foi registrada a movimentação de um grupo de assalto russo composto majoritariamente por soldados feridos. Os drones, armados com bombas, aniquilaram os combatentes em poucos minutos, evidenciando a baixa capacidade ofensiva dessas tropas.

Soldados do exército da Rússia (Foto: reprodução/Facebook)

O fenômeno, apelidado de “batalhões de muletas”, já não é isolado. Um vídeo gravado por um soldado russo do 20º EAC mostrou feridos reunidos para uma nova missão. “O homem está usando muletas para uma missão”, relatou o militar, perplexo, em um registro divulgado por analistas.

A escassez de equipamentos e a pressão sobre o sistema de recrutamento russo explicam a tática desesperada. A Rússia perdeu 15 mil veículos de combate desde o início da guerra, forçando os comandantes a apostarem em ofensivas de infantaria. Em meio ao avanço da Força Aérea ucraniana e ao aumento no uso de drones, soldados a pé são menos detectáveis que tanques ou veículos blindados.

Apesar disso, a estratégia impõe custos humanos devastadores. Dados revelam que, em 2024, a Rússia sofreu 434 mil baixas, incluindo 150 mil mortos, mais do que nos dois anos anteriores combinados. Em contraste, a Ucrânia contabilizou 43 mil mortos e 370 mil feridos desde o início do conflito, segundo declarações do presidente Volodymyr Zelensky em dezembro.

A preferência pela infantaria sobre veículos reforça o recurso abundante da Rússia: sua ampla mão de obra. Contudo, a reutilização de soldados feridos é um sinal claro de que a renovação desse recurso não está acompanhando o ritmo de sua exaustão.

Denúncia antiga

A denúncia de que soldados gravemente feridos são enviados de volta ao campo de batalhas não é nova. O Ministério da Defesa do Reino Unido (MOD, na sigla em inglês) disse em dezembro de 2023 que membros das unidades russas Tempestade-Z tenham sido forçados a lutar com ferimentos não curados e mesmo após amputações de membros.

As Tempestade-Z são destacamentos de segunda linha compostos por soldados que enfrentam condições ainda mais severas do que os demais. A letra Z, usada como símbolo da guerra pela Rússia, é combinada com o termo “tempestade”, que remete às tropas de assalto que assumem as missões mais arriscadas. Esses pelotões incluem criminosos que trocaram penas por serviço militar, militares indisciplinados ou que cometeram atos de insubordinação e frequentemente ex-presos, que enfrentam ainda mais dificuldades por falta de documentação para acessar hospitais militares.

O descaso com as Tempestade-Z se reflete nas condições precárias enfrentadas por seus integrantes, que frequentemente carecem de munição, comida, água e atendimento médico. Relatos de que combatentes do Wagner Group e de milícias de Donetsk receberam pouco ou nenhum tratamento médico foram corroborados pelo MOD, que também apontou que familiares de membros dessas unidades frequentemente denunciam o não pagamento dos salários prometidos.

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