Rússia ‘está pronta’ para cortar relações com UE em caso de sanções, diz Lavrov

Fala ocorreu em entrevista para comentarista pró-Kremlin no YouTube e foi contemporizada por porta-voz

A Rússia “está pronta” para cortar relações com a UE (União Europeia) caso sejam impostas novas sanções, afirmou nesta quinta (11) o ministro das Relações Exteriores do país, Sergei Lavrov.

A declaração ocorreu durante uma entrevista no canal de YouTube russo Solovyov Ao Vivo. Essa ruptura aconteceria se houver “sanções que criam riscos à nossa economia, incluindo em áreas muito sensíveis”, afirmou o chanceler, segundo a britânica BBC.

“Não queremos nos isolar de questões internacionais, mas temos de estar preparados para isso”, afirmou, no canal do comentarista pró-Kremlin Vladimir Solovyov. “Se você quer paz, prepare-se para a guerra”.

A Alemanha classificou a fala de Lavrov como “desconcertante” e “incompreensível”, segundo a Reuters.

'Rússia está pronta' para cortar relações com UE em caso de sanções, diz Lavrov
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e seu chanceler, Sergei Lavrov, em imagem de 2015 (Foto: UN Photo/Cia Pak)

Na sexta, a porta-voz do Kremlin Maria Zakharova contemporizou a fala do ministro Lavrov durante o briefing diário com jornalistas. “Insistimos em uma cooperação igual e mutuamente respeitosa”, afirmou, segundo registro da agência de notícias estatal RIA Novosti.

A ruptura nas relações, disse Zakharova, só ocorreria por iniciativa da UE. O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, disse a membros do Parlamento europeu em Bruxelas que “poria em negociação propostas concretas”, que podem incluir novas penalidades aos russos.

Repercussão em Bruxelas

As relações russo-europeias vivem um ponto baixo desde a expulsão de diplomatas da UE de Alemanha, Polônia e Suécia acusados de “participar de manifestações ilegais” em favor de Alexei Navalny, opositor do presidente Vladimir Putin.

O anúncio da expulsão foi feito durante a visita do chefe de assuntos externos da UE, o catalão Borrell, a Moscou. Os dois representantes realizavam uma entrevista coletiva quando a informação foi divulgada, registrou o editor-chefe da RFE (Radio Free Europe) em Moscou, Steve Gutterman.

As lideranças europeias devem se reunir no próximo dia 22 para tratar das novas sanções à Rússia de Lavrov. Em paralelo, a Alemanha deve retomar a fase final da construção do gasoduto Nord Stream 2 mesmo com feroz oposição da vizinha Polônia e dos países bálticos, todos membros da UE.

Navalny foi envenenado com o agente nervoso Novichok, de fabricação russa, em agosto de 2020. O dissidente passou por tratamento médico na Alemanha e retornou no último dia 18, quando foi preso ainda no aeroporto de Moscou.

'Rússia está pronta' para cortar relações com UE em caso de sanções, diz Lavrov
Protestos pela libertação de Alexei Navalny na capital da Rússia, Moscou, em 23 de janeiro de 2021 (Foto: Twitter/Carl Bildt)

Militantes pró-Navalny marcaram mais um protesto para este domingo (14). A manifestação, também considerada ilegal pelo governo, pede a revogação da sentença de dois anos de cadeia para o opositor e consiste em 15 minutos com a lanterna do celular ligada, mesmo que em casa.

Histórico conturbado

Gutterman, da RFE, lembrou que são frequentes os movimentos anti-Ocidente em anos eleitorais na Rússia. Se há insatisfação em larga escala dentro do país, Putin afirma que trata-se de uma manobra de EUA e Europa contra seu governo, afirma.

Em um encontro com executivos de veículos de imprensa russos, Putin afirmou que “eu e você sabemos que essas manifestações não autorizadas são inspiradas pelo Ocidente”. Navalny, por sua vez, seria “usado por atores externos” para “conter a Rússia”, registrou o portal russo TheBell.io, que não participou da reunião.

“As falas de Putin são parte de uma série de declarações e ações que observadores afirmam ter como objetivo colocar a culpa no Ocidente por problemas domésticos enfrentados pelo Kremlin e apertar o cerco controlando a sociedade civil, suprimindo dissidência e silenciando oponentes, reais ou percebidos, em casa”, afirmou o colunista.

Antes das eleições de 2012, lembrou a RFE, houve manobra semelhante: a então secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, foi acusada de organizar a oposição contra o regime na Rússia.

“Sabemos que os organizadores agem de acordo com um plano bem conhecido para seus interesses políticos mercenários. Colocar dinheiro em processos eleitorais é particularmente inaceitável”, afirmou Putin à época.

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