Contra o desabastecimento, Rússia limita compra de bens essenciais pela população

Governo diz que alimentos como pão, arroz, farinha, ovos e carnes têm sido comprados para revenda a preços mais altos

Com medo de um eventual desabastecimento em função da guerra na Ucrânia, a Rússia planeja impor limites à compra de determinados itens alimentares por seus cidadãos. A decisão serve também para controlar um mercado paralelo que começa a se instalar no país, de acordo com o governo. As informações são do site independente The Moscow Times.

O Ministério da Indústria e Comércio russo afirmou no final de semana que há casos de itens de primeira necessidade comprados “em volume claramente maior que o necessário para o consumo privado, para subsequente revenda”.

Diante da situação, representantes do setor do comércio propuseram que seja estabelecido um limite na quantidade de determinados itens. “O Ministério da Indústria e Comércio e o Ministério da Agricultura apoiaram a iniciativa das organizações comerciais”, disse um comunicado do governo, que concedeu à categoria o direito de estabelecer as regras.

Na Rússia, bens essenciais, sobretudo alimentares, estão sujeitos a controles estatais de preço e devem se os principais alvos da limitação. A lista inclui pão, arroz, farinha, ovos, carnes selecionadas e laticínios.

Supermercado da Rússia, em 2008 (Foto: Wikimedia Commons)

Duras sanções

Desde o início da guerra, a Rússia tem sido alvo de todo tipo de sanção, o que tornou o país um pária internacional. No campo econômico, a União Europeia (UE) cortou sete bancos russos do Swift, um sistema de pagamentos baseado na Bélgica que movimenta dinheiro entre milhares de bancos em todo o mundo. É o que se convencionou chamar de “opção nuclear” no campo das sanções financeiras.

Os EUA, por sua vez, criaram uma força-tarefa e implantaram a Operação CleptoCaptura, cujo objetivo é apreender os bens de alguns dos homens mais ricos da Rússia. “Não deixaremos pedra sobre pedra em nossos esforços para investigar, prender e processar aqueles cujos atos criminosos permitem que o governo russo continue esta guerra injusta”, disse o Procurador-Geral Merrick B. Garland.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esporte, cinema e música.

De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.

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