Rússia produziu ‘deepfake’ para difamar a mulher de Zelensky, aponta investigação

No vídeo alterado por inteligência artificial, falso vendedor diz que Olena Zelenska pagou R$ 27 milhões por um carro de luxo

A Rússia está por trás de um falso vídeo, criado com ajuda de inteligência artificial (IA), cujo objetivo é difamar Olena Zelenska, mulher do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. A conclusão é de uma investigação conduzida pela rede CNN, que pediu a analistas para analisarem as imagens.

O vídeo mostra um falso funcionário de uma concessionária de automóveis francesa relatando a compra de um veículo de luxo Bugatti pela primeira-dama ucraniana, que teria ocorrido durante a visita do casal a Paris em junho. Trata-se de um deepfake, como são chamados vídeos ou fotos alterados por IA a ponto de parecerem autênticos, embora seu conteúdo seja falso.

Olena Zelenska, mulher do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky (Foto: president.gov.ua)

O vendedor, que não existe de verdade, afirma que ela pagou 4,5 milhões de euros (R$ 27 milhões) por um Bugatti Tourbillon no dia 7 de junho, em meio à guerra da Ucrânia contra a Rússia. O vídeo teve cerca de 18 milhões de visualizações na rede social X, antigo Twitter, e levou muitos a questionarem a integridade da primeira-dama e do líder ucraniano.

Embora a concessionária citada no vídeo seja real, localizada na capital da França, a empresa emitiu comunicado negando “veementemente tanto a existência da transação quanto, consequentemente, a existência da fatura”. E citou diversas imprecisões, como o preço incorreto do automóvel e dos opcionais e a proibição imposta à exibição de documentos como os que aparecem na imagens.

Clément Briens, pesquisador da empresa de segurança cibernética Recorded Future, apontou sinais claros de que se trata de um deepfake, como os cortes feitos no vídeo, o sotaque estranho do suposto vendedor e os movimentos de lábios e boca dele.

A opinião foi compartilhada pela startup Clarity, que atua no setor de segurança digital, focada em IA e no combate a deepfakes. Existe “uma alta certeza de manipulações de IA, principalmente na área do meio do rosto”, disse a companhia.

Ao analisar a origem do vídeo, a reportagem chegou a um site francês, o Verite Cachee France. Darren Linvill, professor de Perícia Forense de Mídia da Universidade Clemson, nos EUA, diz que tanto os vídeos quanto o site que o hospeda carregam marcas de campanhas de desinformação russas.

O especialista ainda citou um relatório que fez em parceria com Patrick Warren, professor da mesma universidade, relatando ações semelhantes conduzidas por Moscou. Uma delas citava a própria primeira-dama ucraniana e a falsa compra de joias avaliadas em US$ 1,1 milhão (R$ 6,1 milhões) em Nova York.

De acordo com Briens, o objetivo do governo russo com campanhas de desinformação como esta é minar o apoio político à Ucrânia sobretudo em países da União Europeia (UE).

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