União Europeia intensifica o combate à desinformação russa e põe redes sociais na mira

Bloco projeta multar quem disseminar notícias falsas e mostra especial preocupação com o uso de inteligência artificial

As eleições parlamentares da União Europeia (UE) acontecerão em junho deste ano. Conforme o pleito se aproxima, a Rússia intensifica sua campanha de desinformação na Europa, de forma a beneficiar partidos nacionalistas com posição pró-Kremlin. Pensando nisso, o bloco prepara uma dura resposta, que prevê inclusive multas para quem divulgar conteúdo falso. As informações são do jornal Financial Times.

Vera Jourova, vice-presidente da Comissão Europeia e encarregada de combater a desinformação, diz que a eleição parlamentar virá acompanhada de “manipulação oculta e interferência estrangeira, especialmente do lado do Kremlin”. Segundo ela, é necessário um “esforço especial” para combater essa “avalanche de desinformação”.

Um dos alvos das novas medidas por parte da UE são as redes sociais, como TikTok e X, que se tornaram os veículos preferidos do Kremlin para disseminar sua propaganda estatal. O bloco prevê que falhas na moderação de conteúdo podem acarretar multas de até 6% do volume de negócios global das redes sociais.

Bandeira da União Europeia: bloco combate a desinformação russa (Foto: Markus Spiske/Unsplash)

“As plataformas de redes sociais precisam mostrar que estão cumprindo, ou explicar o que mais estão fazendo para mitigar os riscos”, disse um funcionário da UE ao Financial Times. “Se elas não explicarem, emitiremos multas.”

A UE vê o momento como particularmente delicado devido ao uso de inteligência artificial (IA), que tem gerado cada vez mais deepfakes, conteúdos que usam a tecnologia para reproduzir imagens e vozes a ponto de tornar a notícia falsa quase imperceptível pelo público.

O bloco europeu diz que identificou no ano passado 750 campanhas de desinformação, problema que foi classificado como uma “ameaça à segurança” continental. E Moscou é especialista no assunto, algo que vem desde os tempos da Guerra Fria e ganhou força com o surgimento da internet, com suas fazendas de trolls e ataques de hackers.

Em novembro do ano passado, A Referência conversou por e-mail com Jakub Kalenský, analista sênior focado na desinformação russa do Centro Europeu de Excelência para Combate a Ameaças Híbridas, alinhado com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a União Europeia (UE).

Segundo ele, Moscou “é responsável por quase o dobro das operações [de desinformação] que o resto do mundo combinado. Ninguém mais tem a experiência que o Kremlin tem.” Ele afirmou que a Rússia “foi muito ativa neste aspecto já durante a Guerra Fria”, o que permitiu o desenvolvimento de um programa de desinformação e propaganda que hoje está presente em diversos países e não encontra paralelo nem entre aliados como ChinaIrã e Coreia do Norte.

Ataque à democracia

A Europa já vinha agindo para conter os danos, inclusive com veículos de mídia russos impedidos de operar no continente. São os casos do canal RT (antigo Russia Today) e da agência estatal de notícias Sputnik, alvos de uma medida que determinou, em março de 2022, a “suspensão urgente” de suas atividades na Europa.

Atualmente, Moscou usa a desinformação para disseminar a ideia de que o apoio europeu Kiev está acabando. “A manipulação sistemática de informação e a desinformação por parte do Kremlin são aplicadas como ferramenta operacional no seu ataque à Ucrânia“, disse o Conselho Europeu há dois anos, quando determinou a suspensão dos veículos russos 

O objetivo final, entretanto, é mais amplo: corroer as bases do Estado democrático, como disse em janeiro o chefe de política externa da UE, Josep Borrell. “A desinformação enfraquece o tecido social e envenena as democracias, porque só a informação torna a democracia possível”, afirmou ele.

Em sua manifestação de março de 2022, o Conselho Europeu seguiu pelo mesmo caminho, sentenciando que a campanha russa de desinformação e propaganda estatal “constitui também uma ameaça significativa e direta à ordem e à segurança públicas” do bloco europeu.

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