Rússia usa hackers para prejudicar acusações de crimes de guerra, diz relatório

Ciberataques têm como objetivo coletar informações de casos contra soldados russos e até ajudar Moscou a levá-los de volta

Os hackers têm papel importante no esforço de guerra da Rússia contra a Ucrânia. Desde a invasão, em fevereiro de 2022, têm se acumulado indícios de que Moscou usa ciberataques sobretudo para obter dados sigilosos e disseminar desinformação. Entretanto, relatório divulgado nesta semana por um órgão do governo ucraniano aponta que as campanhas digitais maliciosas patrocinadas pelo Kremlin servem também para tentar prejudicar as frequentes acusações de crimes de guerra contra tropas russas.

De acordo com o site Cyberscoop, que divulgou os dados do relatório em primeira mão, um dos objetivos dos hackers é tentar evitar que processos por crimes de guerra sejam instaurados contra soldados russos na Ucrânia, ou mesmo encontrar formas de levar os acusados de volta ao território russo.

De acordo com o governo ucraniano, foram registrados, entre 24 de fevereiro de 2022 e 21 de setembro de 2023, 108.026 crimes de guerra cometidos pelas forças de ocupação. Entre as mais de 27 mil vítimas da guerra estão 9.614 civis que teriam sido mortos, inclusive 504 crianças.

Kiev, que registra todos esses dados em um site aberto ao público, diz que os números reais tendem a ser ainda maiores, vez que muitas regiões do país ou seguem sob ocupação russa ou com confrontos em andamento, inviabilizando o aceso das autoridades.

Hackers fazem parte dos esforços de guerra da Rússia contra a Ucrânia (Foto: Max Bender/Unplash)

O Tribunal Penal Internacional (TPI), que vem coletando as provas para futuramente julgar autoridades e militares, disse na semana passada que teve seu sistema invadido por hackers, segundo a agência Reuters. Porém, não deu maiores detalhes sobre a gravidade do ciberataque ou quem seria o responsável.

“Foram adotadas medidas imediatas para responder a este incidente de segurança cibernética e para mitigar o seu impacto”, afirmou o TPI em breve comunicado.

Embora não faça referência ao ataque contra o TPI, o relatório do Serviço Estatal de Comunicações Especiais e Proteção de Informações (SSSCIP, na sigla em inglês) diz que Moscou organizou uma campanha focada em comprometer os esforços ucranianos para julgar cidadãos russos.

Segundo o documento do SSCIP, os hackers são encarregados de obter informações que permitam a Moscou ter melhor conhecimento dos casos que serão levados aos tribunais. Eles tentam acessar bancos de dados contendo evidências, listas de testemunhas e partes interessadas, dados dos acusados e outras informações que possam ajudar inclusive a tentar levar os criminosos de volta à Rússia.

Na comparação com os ciberataques que ocorriam no primeiro ano de guerra, Kiev argumenta que agora os russos “parecem utilizar tácticas menos sofisticadas, empregando uma abordagem de ‘pulverizar e rezar’, enquanto a defesa da infraestrutura da Ucrânia melhorou significativamente em comparação com seis meses atrás.”

Mesmo diante de tal cenário favorável, o relatório admite que os hackers a serviço do Kremlin “ainda conseguiram algum sucesso em casos envolvendo tentativas de limpeza de dados ou outras operações destrutivas.”

A Ucrânia diz que os grupos de hackers servem principalmente o GRU, órgão de inteligência militar russo, e o FSB (Serviço Federal de Segurança), sucessor da KGB dos tempos de União Soviética.

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