Uma série de ataques a cabos submarinos no Mar Báltico tem mobilizado os países nórdicos e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), intensificando os esforços de vigilância e defesa na região. No centro das suspeitas está a “frota sombra” da Rússia, formada por embarcações usadas para escapar de sanções econômicas e realizar atividades clandestinas.
O caso mais recente envolveu o cabo Estlink 2, que conecta a Finlândia à Estônia, danificado em dezembro. Autoridades finlandesas apontam o navio Eagle S, parte da frota sombra como o responsável. Segundo o jornal The Guardian, o governo sueco reforçou as suspeitas, afirmando que episódios desse tipo dificilmente ocorreriam por acidente, dado o padrão de danos observados.

Em resposta, a Suécia anunciou o envio de três navios de guerra e uma aeronave de vigilância para o Báltico, uma mobilização inédita em tempos recentes. O primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, declarou que, embora o país não esteja em guerra, também não vive em paz, destacando o impacto de ataques híbridos e sabotagens na região.
Além do Estlink 2, outros cabos e gasodutos submarinos sofreram danos nos últimos meses. Em novembro, cabos conectando Suécia, Finlândia e Alemanha foram danificados, com suspeitas recaindo sobre navios chineses e russos. Segundo a rede ABC News, ataques como esses são facilitados pelas características do Báltico, um mar raso em comparação a outras regiões do mundo, onde ferramentas simples, como âncoras, podem ser usadas para causar grandes prejuízos.
A Otan intensificou suas patrulhas na região, utilizando sistemas baseados em inteligência artificial para monitorar ameaças e rastrear embarcações suspeitas. Entretanto, o monitoramento é desafiador devido ao grande volume de embarcações que cruzam o Báltico diariamente e às limitações legais de navegação em águas internacionais.
A “frota sombra” russa, com mais de 1,4 mil embarcações, opera em mercados opacos e é suspeita de realizar ações de sabotagem em meio a sanções econômicas. A sabotagem de cabos submarinos não só prejudica a infraestrutura energética e de comunicação, como também testa a capacidade de resposta da Otan e de seus aliados.
Otan mais forte no Báltico
A adesão da Suécia à Otan trouxe novos recursos à aliança, incluindo o aumento de gastos militares e o desenvolvimento de um centro de cibersegurança. Segundo o The Guardian, autoridades suecas afirmam que o país abandonou sua posição de neutralidade e agora atua no centro das decisões de segurança na Europa.
Apesar das dificuldades em garantir a segurança de uma área tão vasta e movimentada, líderes regionais enfatizam a necessidade de cooperação internacional para proteger o Báltico. Conforme destaca a ABC News, a sabotagem de infraestrutura crítica tem efeitos desproporcionais em uma região sensível como essa, onde a integração energética ainda é limitada.
A crescente tensão no Báltico reflete as complexidades da segurança europeia em meio à guerra na Ucrânia e às disputas geopolíticas envolvendo a Rússia. A resposta militar coordenada entre países nórdicos e a Otan é vista como um passo crucial para garantir a estabilidade em uma região vital para a segurança energética e estratégica da Europa.
“Essa é a única maneira de reduzir o problema: focar na infraestrutura crítica, em vez de tentar obter vigilância de uma área ampla como o Báltico”, disse Sidharth Kaushal, pesquisador sênior de poder marítimo do think tank British Royal United Services Institute.