Software espião hackeou Boris Johnson e outros altos funcionários do Reino Unido

Além do gabinete do premiê britânico, spyware israelense Pegasus invadiu Ministério das Relações Exteriores

O Citizen Lab, grupo de pesquisa digital especializado em cibersegurança, revelou nesta segunda-feira (18) que alertou autoridades do Reino Unido para a presença de dispositivos eletrônicos invasores conectados a redes governamentais. O software de espionagem israelense Pegasus teria hackeado inclusive o gabinete do premiê Boris Johnson e o Ministério das Relações Exteriores. As informações são da agência Reuters.

O Pegasus infecta dispositivos eletrônicos e permite aos operadores obter mensagens, fotos e e-mails, gravar chamadas e até ativar microfones. O programa foi desenvolvido pela empresa de armas cibernéticas NSO Group, de Tel Aviv, segundo um post publicado pelo Citizen Lab.

“Confirmamos que em 2020 e 2021 observamos e notificamos o governo britânico sobre várias instâncias suspeitas de infecções por spyware Pegasus nas redes oficiais do Reino Unido”, diz a publicação.

Levantamento de grupo de cibersegurança apontou que ciberataques ocorreram entre 2020 e 2021 (Foto: Piqsels/Divulgação)

Por meio de um porta-voz, a NSO declarou que as alegações são “falsas e não podem estar relacionadas a produtos da empresa por razões tecnológicas e contratuais”.

Segundo o Citizen Lab, foram encontradas evidências dos dispositivos comprometidos no Reino Unido monitorando o tráfego da Internet e outros sinais digitais para espionar servidores que controlam o Pegasus para vários clientes NSO.

“Identificamos infecções provenientes dessas redes do Reino Unido com base em uma variedade de métodos de varredura de rede que usamos e notificamos as autoridades relevantes do Reino Unido sobre nossas suspeitas no momento de acompanhamento”, escreveu o diretor do grupo de pesquisa, Ron Deibert, na postagem do blog. “Não tivemos acesso a nenhum dispositivo e não temos informações sobre vítimas específicas”.

O Citizen Lab acredita que a invasão ao gabinete do primeiro-ministro seja trabalho de clientes da NSO nos Emirados Árabes Unidos, onde o governo tem histórico de acusações semelhantes de espionagem. Já os hackers que invadiram o Ministério das Relações Exteriores britânico seriam de outros países, entre eles Chipre, Jordânia e Índia.

Ouvidas pela reportagem, as autoridades do Chipre “negam categoricamente” qualquer envolvimento no assunto. Porta-vozes do governo dos Emirados Árabes Unidos, Jordânia e Índia não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.

Por que isso importa?

Em julho de 2021, a Anistia Internacional e a ONG Forbidden Stories (Histórias Proibidas) publicaram um relatório expondo que centenas de celulares de jornalistas, líderes políticos e defensores de direitos estão sob vigilância, através do software espião Pegasus.  

Para os relatores, a empresa precisa divulgar publicamente se conduziu, ou não, as devidas diligências de direitos humanos, de acordo com os Princípios da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre Negócios e Direitos Humanos.   

Os especialistas pedem também a Israel para divulgar se o país avaliou as transações de exportação feitas pelo NSO Group, uma vez que “é obrigação dos Estados garantir que essas empresas não vendam nem transfiram tecnologia a países ou entidades que pretendem usar os dados para violar os direitos humanos”. 

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