Tensão crescente nos Bálcãs leva Sérvia a preparar a ampliação das Forças Armadas

Cercado por membros da Otan e em constante atrito com Kosovo, Belgrado diz que precisa de um Exército mais forte para se defender

O presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, alega ter ouvido “argumentos fortes” de seu comando militar a favor da ideia de retomar o recrutamento obrigatório de cidadãos para ampliar o efetivo das Forças Armadas, em meio à tensão crescente na vizinhança. As informações são da rede Euronews.

O alistamento obrigatório no país foi suspenso em 2011, sob o argumento de modernizar as tropas do país através da formação de soldados profissionais. Agora, porém, o líder populista cogita a possibilidade de retomar o serviço obrigatório, temendo um conflito sobretudo com Kosovo, país hoje ocupado por tropas da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

O projeto conta tem a concordância dos legisladores aliados e deve ser colocado em votação, com boa chance de ser aprovado devido ao apoio majoritário que Vucic tem no parlamento. Ainda não existe, entretanto, uma data para isso acontecer.

Presidente sérvio Aleksandar Vucic: Exército mais forte (Foto: ΝΕΑ ΔΗΜΟΚΡΑΤΙΑ/Flickr)

“Hoje, se você não tem um Exército (forte), você não tem um país”, disse ele ao justificar a proposta. “Veremos se (o serviço militar) durará 90 ou cem dias, ou talvez 110 dias. E veremos quando será introduzido e como serão cumpridas as premissas financeiras e logísticas.”

Entre os opositores, o argumento é o de que manter Forças Armadas poderosas é um desperdício, vez que o país está cercado por membros da Otan com um poder de fogo muito superior. Pesa, ainda, o tamanho do investimento necessário para ampliar o Exército.

Escalada na fronteira

A tensão na fronteira entre Sérvia e Kosovo vem aumentando gradativamente, a ponto de o governo kosovar ter acusado o vizinho, em outubro do ano passado, de acumular tropas perto da linha divisória, supostamente preparando uma invasão em grande escala que não ocorreu.

Na ocasião, o primeiro-ministro kosovar Albin Kurti disse que os sérvios buscavam uma justificativa para atacar. Para obterem tal argumento, teriam enviado cerca de 30 homens fortemente armados ao norte de Kosovo em uma missão de desestabilização no final de setembro.

Embora as tensões tenham sido controladas na ocasião, até o governo norte-americano se manifestou e confirmou as alegações kosovares, dizendo ter detectado “um grande destacamento militar sérvio ao longo da fronteira.”

Quem ajuda a impedir uma agressão é a força de manutenção da paz da Otan, que tem quase quatro mil soldados em Kosovo. Por sua vez, a União Europeia (UE) faz o papel de mediadora, com base no fato de que a Sérvia trabalha para ser aceita como membro do bloco.

Hostilidade histórica

Sérvia e Kosovo mantêm péssimas relações desde a guerra travada no fim dos anos 1990 e que separou o território. Após sua declaração unilateral de independência, em 2008, Pristina tem hoje o reconhecimento dos EUA e da UE, enquanto Rússia e China ainda reconhecem o território como sérvio.

As pessoas que perderam a vida na guerra de Kosovo eram em sua maioria albaneses étnicos, que representam também a maior parcela da população kosovar. Uma campanha aérea da Otan de 78 dias contra as tropas sérvias deu fim ao conflito.

Além de não reconhecer Kosovo como um Estado independente, nem reconhecer os sérvios étnicos que vivem lá, Belgrado ainda acusa o jovem país balcânico de tramar “terrorismo contra os sérvios”.

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