Belgrado colocou suas tropas no “mais alto nível de prontidão de combate” na segunda-feira (26) após semanas de escalada de tensão na fronteira da Sérvia com Kosovo. Em meio a esse cenário turbulento, o presidente do país, Aleksandar Vucic, disse que todas as “medidas para proteger nosso povo e preservar a Sérvia” serão tomadas. As informações são da rede BBC.
Tiroteios, explosões e bloqueios de estradas foram relatados nas últimas semanas. As barricadas, que ocorrem desde o último dia 10, são em protesto contra a prisão de um ex-policial sérvio. Os temores de que Pristina esteja preparando “um ataque” às áreas étnicas sérvias no norte de Kosovo também têm colocado lenha na fogueira.
A atmosfera levou o ministro do Interior da Sérvia, Bratislav Gasic, a ordenar que polícia e outras unidades de segurança estejam prontas para um conflito.
Os pontos de passagem entre o norte de Kosovo e a Sérvia estão bloqueados. Na manhã desta terça-feira (27), novos bloqueios de estradas foram montados em North Mitrovica, a principal cidade de maioria sérvia de Kosovo.
Kosovo, que tem uma esmagadora maioria de etnia albanesa, separou-se da Sérvia depois de uma guerra entre os anos de 1998 e 1999. Belgrado não reconhece o Kosovo como um Estado independente, nem os sérvios étnicos que vivem lá, e ainda acusa o jovem país balcânico de tramar “terrorismo contra os sérvios”.
A força de manutenção da paz da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em Kosovo (KFOR, da sigla em inglês), que tem cerca de 3,7 mil soldados na região, juntamente de outros membros da comunidade internacional, pediu aos sérvios que evitem desencadear mais violência, à medida que a aliança militar investiga um tiroteio no último fim de semana perto de suas tropas de patrulha.
“É importante que todos os envolvidos evitem qualquer retórica ou ações que possam causar tensões e agravar a situação”, disse a KFOR pelo Twitter.
#KFOR is investigating an indirect fire incident on 25 December in the close proximity of a @NATO_KFOR patrol. The incident involved unknown armed people in the Zubin Potok area. pic.twitter.com/1FsznDeWae
— @NATO – KFOR (@NATO_KFOR) December 26, 2022
Enquanto isso, a União Europeia (UE) vem tentando articular um papel de mediação. O bloco de 27 Estados-Membros pede “máxima contenção e ação imediata”, e que os líderes da Sérvia e Kosovo “contribuam pessoalmente para uma solução política”. O bloco ainda alertou que não irá tolerar “ataques à polícia da UE ou atos criminosos”.
A relação entre os dois países teve piora em novembro, quando um número expressivo de membros da comunidade sérvia de Kosovo abandonaram seus empregos, incluindo juízes locais e cerca de 600 policiais, em protesto contra uma política que os impedia de usar placas sérvias.
Por que isso importa?
Sérvia e Kosovo mantêm péssimas relações desde a guerra travada no fim dos anos 1990 e que separou o território. Após sua declaração unilateral de independência de Belgrado, em 2008, Kosovo hoje tem o reconhecimento dos EUA e da UE. Sérvia e Rússia ainda reconhecem o território como sérvio.
A maioria das pessoas que perdeu a vida na guerra de Kosovo eram albaneses étnicos. Uma campanha aérea da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de 78 dias contra as tropas sérvias deu fim ao conflito.
Em maio, um documento diplomático anônimo sugeriu acordo entre Sérvia e Kosovo. A publicação delineou possíveis termos de acordo entre os dois países, que disputam território kosovar, até 2022.