Ucrânia diz que já identificou 600 suspeitos de crimes de guerra, entre eles políticos da Rússia

Procuradora-geral ucraniana diz que lista inclui não apenas soldados, mas também "militares de elite, políticos e agentes de propaganda da Rússia"

A procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, afirmou na terça-feira (31), em Haia, na Holanda, que seu país já identificou mais de 600 suspeitos de terem cometido crimes de guerra durante o conflito iniciado com a invasão das tropas da Rússia, no dia 24 de fevereiro. As informações são da agência Reuters.

Segundo ela, entre os suspeitos estão “militares de elite, políticos e agentes de propaganda da Rússia”. Até agora, três soldados já foram julgados e condenados. Primeiro, Vadim Shishimarin foi condenado à prisão perpétua, no dia 23 de maio, por matar um civil desarmado. Na terça-feira (31), Alexander Bobikin e Alexander Ivanov foram condenados a 11 anos e seis meses de prisão por dispararem artilharia contra áreas residenciais ucranianas.

Venediktova também anunciou que Estônia, Letônia e Eslováquia se juntaram ao grupo de investigação internacional originalmente formado por Ucrânia, Polônia e Lituânia. O objetivo da força-tarefa é coletar evidência e trocar informações a fim de viabilizar a futura condenação dos suspeitos de abusos durante a guerra.

Menino de bicicleta em meio à destruição causada pelos bombardeios russos em Novoselivka, na Ucrânia (Foto: Unicef/Ashley Gilbertson)

Os representantes desses seis países trabalham em parceria com o Tribunal Penal Internacional (TPI), que já deu início a uma investigação internacional. A corte, sediada em Haia e liderada pelo promotor Karim Kahn, destacou 42 pessoas, entre investigadores, especialistas forenses e membros da equipe de apoio, para atuar no caso. Ele disse que o órgão prepara a abertura de um escritório em Kiev.

A procuradora-geral ucraniana afirmou que o apoio internacional é fundamental para investigar e punir todos os crimes de guerra e crimes contra a humanidade apurados. “Devemos recolher e proteger tudo (as evidências) da maneira certa. Deve ser uma prova aceitável em qualquer tribunal”, disse ela.

O massacre de Bucha

A pressão global por punições à Rússia, às suas tropas e ao presidente Putin aumentou bastante depois que os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.

Civis mortos nas ruas de Bucha cidade ucraniana (Foto: reprodução/Twitter)

Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.

Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Mais recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de crimes.

Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas, essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.

“O maior crime de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedir o genocídio”.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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