Ucrânia reintegra soldados desertores para reforçar a linha de frente contra a Rússia

Com baixas crescentes, exército ucraniano aceita de volta militares que deixaram o serviço sem autorização

Enfrentando dificuldades para manter tropas suficientes na linha de frente contra o avanço russo, a Ucrânia está dando uma segunda chance a soldados que haviam se ausentado sem autorização. Dados da Promotoria de Justiça mostram que desde 2022 foram abertos quase 95 mil casos de deserção ou ausência não autorizada, a maioria registrada em 2024. As informações são da agência Reuters.

A pressão por novos recrutas levou unidades como a 47ª Brigada a abrir vagas para militares que haviam abandonado suas bases. “Nosso objetivo é dar a cada soldado a oportunidade de voltar e realizar seu potencial”, afirmou um comunicado da brigada. Segundo o chefe de recrutamento, Viacheslav Smirnov, “houve um tsunami de inscrições; tantas que ainda não conseguimos processar todas”.

Uma recente mudança na legislação militar tornou menos severa a primeira ausência de soldados, facilitando o retorno ao serviço. Nos últimos 30 dias, seis mil soldados que estavam ausentes voltaram às fileiras, incluindo três mil nos primeiros três dias após a aprovação da lei, afirmou o coronel Oleksandr Hrynchuk, da polícia militar ucraniana.

Soldados ucranianos em Bakhmut (Foto: WikiCommons)

Parte dos soldados readmitidos explica sua ausência como resultado do esgotamento físico e mental. “Alguns não conseguiram se adaptar à transição abrupta da vida civil; outros, após anos em funções especializadas, foram enviados à linha de frente por falta de infantaria”, relatou Mykhailo Perets, oficial do batalhão K-2 da 54ª Brigada, que já reintegrou mais de 30 homens.

Analistas apontam que o cansaço extremo e a idade avançada média dos combatentes são fatores críticos para o aumento das deserções. “Um exército de homens em seus 40 anos, muitas vezes com saúde debilitada, se exaure mais rápido do que um formado por soldados de 20 ou 25 anos”, explicou Gil Barndollar, do think tank Defense Priorities.

Apesar da gravidade do problema, o presidente Volodymyr Zelensky defendeu que a questão central não é a falta de soldados, mas de armamento. Ele argumentou que os aliados entregaram apenas um quarto do equipamento necessário para as novas brigadas formadas em 2024.

A alegação, porém, parece incompatível com a realidade. Nos últimos meses, Kiev tem estabelecido regras voltadas a aumentar o número de cidadãos á disposição das Forças Armadas e até sofreu pressão dos EUA, seu principal aliado, nesse sentido.

De acordo com a Reuters, Washington tem incentivado Kiev a diminuir a idade mínima para o serviço militar de 25 para 18 anos. Segundo um alto funcionário do governo norte-americano, o ritmo de mobilização de novos recrutas por Kiev é insuficiente para compensar as perdas no campo de batalha.

A pressão ocorre em um cenário em que os avanços russos estão no ritmo mais acelerado desde o início da invasão em 2022. Analistas apontam que a Rússia conquistou, apenas em novembro, uma área equivalente à metade de Londres.

Em abril, Zelensky já havia reduzido a idade máxima para mobilização de 27 para 25 anos, ampliando o número de civis aptos ao combate sob a lei marcial em vigor desde o início do conflito. Outra medida surgiu em maio, quando legisladores aprovaram um projeto de lei que permite a convocação de criminosos condenados para lutar.

Paralelamente, Zelensky passou a pressionar os países europeus para que forcem o retorno à Ucrânia de refugiados em idade de alistamento. A Eurostat, agência estatística da União Europeia (UE), estima que cerca de 768 mil homens ucranianos entre 18 e 64 anos foram abrigados por países do bloco durante a guerra, um número bastante atrativo para as Forças Armadas.

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