Exaustos, soldados ucranianos questionam estratégia e esperam que Trump encerre a guerra

Sob condições adversas, tropas de Kiev na Rússia relatam desmotivação e ordens que parecem desconectadas da realidade

No front de Kursk, onde tentam resistir ao avanço russo, o desânimo entre os soldados ucranianos cresce a cada dia. Mensagens obtidas por meio do aplicativo Telegram revelam frustrações com uma campanha que muitos consideram mal planejada. “Nossa terra não está aqui”, lamentou um militar citado pela rede BBC, que destacou a falta de propósito na operação dentro do território da Rússia.

Quase quatro meses após a ofensiva relâmpago que resultou na ocupação de parte do território russo, os combates em Kursk se transformaram em um jogo de resistência. As tropas da Ucrânia, exaustas e sob pressão, esperam uma mudança profunda nos rumos do conflito a partir da posse de Donald Trump nos Estados Unidos, ante à promessa dele de cortar apoio a Kiev e assim forçar uma solução para a guerra.

“A principal tarefa é manter o máximo de território possível até a posse de Trump e o início de negociações”, explicou o soldado, que foi identificado pelo nome Pavlo para preservar a verdadeira identidade. Segundo ele, a estratégia seria usar o território como moeda de troca política, embora o objetivo final permaneça obscuro.

Soldado ucraniano com a bandeira do país às costas (Foto: x.com/DefenceU//divulgação)

Sob ataques constantes e enfrentando o rigor do inverno, os soldados relatam esgotamento físico e psicológico. Destacam, ainda o que alegam ser uma desconexão entre os esforços que fazem no campo de batalha e as decisões estratégicas de seus superiores.

A frustração é agravada pelas condições severas: bombardeios ininterruptos, longos períodos sem descanso e unidades improvisadas com homens sem treinamento adequado.

Apesar das dificuldades, militares ucranianos defendem a importância estratégica da operação. “Conseguimos desviar forças russas de outras frentes importantes, como Zaporizhzhya e Kharkiv”, disse outro combatente que teve a identidade real preservada.

No entanto, ele admitiu que manter o controle de Kursk tem sido um desafio cada vez maior. Desde agosto, cerca de 40% do território conquistado foi perdido para as forças russas.

Entre os soldados, o consenso é o de que a situação atual lembra operações anteriores, como a tentativa de manter um pequeno reduto em Krynky, às margens do rio Dnipro, que terminou em um fracasso devastador.

“Boa ideia, mas má execução. Um efeito midiático sem resultados militares reais”, avaliou Myroslav, que participou daquela operação e agora está em Kursk.

Ainda assim, analistas insistem na relevância da campanha. “É a única área onde mantemos a iniciativa”, afirmou Serhiy Kuzan, do Centro de Segurança e Cooperação Ucraniana. Ele reconhece as dificuldades enfrentadas pelas tropas, mas ressalta que a manutenção dessa frente força a Rússia a alocar recursos que poderiam ser utilizados em outros combates.

Para os comandantes em Kiev, a operação continua gerando ganhos militares e políticos. “Essa situação irrita Putin. Ele sofre perdas pesadas lá”, declarou um oficial sob anonimato.

Contudo, no campo de batalha, os soldados seguem divididos entre o cumprimento do dever e a dúvida sobre até quando essa estratégia será sustentável. “Ninguém fica sentado em uma trincheira fria e reza por mísseis”, disse Pavlo. “Vivemos e lutamos aqui e agora. E mísseis voam em outro lugar.”

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