Pela primeira vez, a União Europeia (UE) formalizou uma acusação contra a Rússia pelo uso de gás lacrimogêneo do tipo CS em zonas de combate na Ucrânia. A denúncia integra um novo pacote de sanções, cuja minuta foi obtida pela rede Radio Free Europe (RFE), e tem como base dois relatórios da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), publicados a pedido do governo ucraniano em novembro de 2024 e fevereiro de 2025.
De acordo com o texto, o gás teria sido utilizado durante ofensivas russas nas localidades de Maryivka e Ilinka, na região de Dnipropetrovsk, em 2024. A substância, também conhecida como “Lilac”, provoca irritação intensa nos olhos, pele e vias respiratórias, podendo causar desorientação e sufocamento. Apesar de ser classificado como não letal e usado por forças policiais em diversos países, seu uso como arma de guerra é proibido pelo Artigo 1 da Convenção sobre Armas Químicas.
A UE sustenta que as evidências reunidas pela OPAQ são consistentes: amostras de solo e água, depoimentos de militares e registros fotográficos de granadas marcadas com “RG-Vo”, sigla que indica “granada de mão – agente tóxico”. Imagens divulgadas pela emissora estatal russa RT mostram soldados russos utilizando armamentos desse tipo.
“Dada a gravidade da situação, na ausência de uma explicação crível por parte da Rússia sobre o uso amplamente noticiado de agentes de controle de distúrbios, e para fortalecer a norma global contra o uso de armas químicas, a União Europeia pede uma atribuição oportuna do uso comprovado de agentes de controle de distúrbios como método de guerra por parte da OPAQ”, diz o documento da UE.
A proposta de sanções da UE também inclui duas instituições científicas russas – os centros de pesquisa 27 e 33 – e as Tropas de Defesa Radiológica, Química e Biológica do Ministério da Defesa da Rússia, diretamente envolvidas no desenvolvimento e no uso desses agentes.
O Ministério da Defesa da Ucrânia, por sua vez, relatou ter encontrado cápsulas com gás CS dentro de drones Shahed, de fabricação iraniana, amplamente utilizados pelas forças russas nos ataques ao território ucraniano.