VÍDEO: Em entrevista a Tucker Carlson, Putin pede aos EUA que ‘negociem’ sobre a Ucrânia

Em duas horas de conversa, chefe do Kremlin disse que não espera uma vitória militar, mas busca um acordo com o Ocidente

Tucker Carlson, conhecido apresentador conservador dos EUA, entrevistou Vladimir Putin em Moscou na quinta-feira (8), marcando a primeira vez que o presidente russo conversa com um jornalista ocidental desde a invasão da Ucrânia, que no próximo dia 22 completará dois anos.

Durante duas horas, a conversa, travada em uma sala dourada no Kremlin, foi marcada por uma retórica anti-Ucrânia do chefe do Kremlin e pela busca do jornalista associado à extrema direita por reconhecimento em sua carreira pós-Fox News, de onde foi demitido. A entrevista foi repercutida pelo jornal The New York Times.

Putin concede entrevista ao canal de TV Russia-1 (Foto: WikiCommons)

Ao longo das últimas duas décadas, Putin buscou alianças no Ocidente, até mesmo interferindo em eleições, como foi o caso do pleito em 2016 que levou Donald Trump à Casa Branca, com uso de uma “fazenda de trolls” que disseminou desinformação online. Diante de Carlson, o líder russo sugeriu aos EUA que cedessem território ucraniano para encerrar o conflito. Sua mensagem foi direcionada aos conservadores norte-americanos, enquanto parlamentares republicanos debatem a ajuda a Kiev no Congresso, questionando se o país deve colocar seu dinheiro em uma guerra distante de suas fronteiras.

“Você não tem nada melhor para fazer?”, disse Putin quando questionado sobre a possibilidade de soldados americanos lutarem na Ucrânia. E deu pitacos sobre questões sensíveis no país: “Vocês têm problemas na fronteira, problemas com migração, problemas com a dívida nacional”. Ele sugeriu, também, que Washington negocie com Moscou em vez de se envolver em conflitos.

Putin tomou a frente na conversa, com longas divagações e narrativas de propaganda, buscando argumentar que a Rússia tem direitos históricos sobre o leste da Ucrânia – algo que líderes ucranianos e muitos historiadores contestam.

Durante a entrevista, Putin ainda abordou a história da Rússia na Europa Oriental desde o século IX, além de discutir sobre inteligência artificial (IA), Genghis Khan, o famoso líder e conquistador mongol do século XIII, e o Império Romano. Ele também reiterou suas justificativas para a invasão da Ucrânia, afirmando que a Rússia estava tentando “parar esta guerra”, segundo ele, alimentada pelo Ocidente.

Putin não poupou palavras ao discutir o fim da guerra na Ucrânia. Ele afirmou que não espera uma vitória militar, mas sim um acordo com o Ocidente. Segundo ele, os líderes ocidentais já perceberam que as suas tropas não serão derrotadas no front, então é hora de começar o diálogo sobre o fim do conflito. Putin também sugeriu que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) deve encontrar “uma maneira digna” de aceitar o controle russo sobre partes da Ucrânia.

“Se for assim, se a compreensão se concretizar, eles terão que pensar no que fazer a seguir. Estamos prontos para este diálogo”, disse Putin.

Polônia, Letônia e Nord Stream

O líder russo culpou os ucranianos pelo início do conflito em 2022, mas Carlson, que durante a conversa evitou usar a palavra “invasão” para descrever o envio de tropas russas para a Ucrânia, não questionou essa alegação. O jornalista também não abordou Putin sobre os mandados de prisão emitidos pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) contra ele e Maria Lvova-Belova, comissária presidencial da Rússia para os direitos das crianças, por supostos crimes de guerra devido à deportação ilegal de crianças ucranianas.

Segundo o Kremlin, o ex-âncora da Fox foi escolhido para a entrevista porque os meios de comunicação tradicionais do Ocidente assumem “uma posição exclusivamente unilateral” em relação à Rússia,

No decorrer da entrevista, Putin não hesitou em defender suas ações, afirmando que elas estavam cumprindo o papel de “proteger seu povo e seu futuro”.

O mandatário russo também afirmou a Carlson que Moscou não tem intenção de atacar países na fronteira oriental da Otan, descartando o que alguns líderes ocidentais vêm alertando.

“Não estamos interessados na Polônia, Letônia ou em qualquer outro lugar”, declarou Putin. “Isso é apenas alarmismo desnecessário”.

Ele também acusou a CIA pela explosão do gasoduto Nord Stream. O incidente ocorreu em setembro de 2022, quando explosões destruíram seções do gasoduto no Mar Báltico responsável por transportar gás natural russo para a Alemanha. O ataque beneficiou a Ucrânia ao prejudicar severamente a capacidade da Rússia de faturar milhões de dólares com a venda de gás natural para a Europa Ocidental. 

Momento de glória

A entrevista de Putin com Carlson chega em um momento crucial para o líder russo, que parece sentir que é o seu “momento de glória”, de acordo com Tatiana Stanovaya, pesquisadora do Carnegie Russia Eurasia Center, centro de estudos e pesquisa dedicado a assuntos relacionados à Rússia e à Eurásia.

Tatiana sugere que Putin busca um acordo de paz na Ucrânia para consolidar o controle russo sobre o território já capturado e instalar um governo pró-Rússia em Kiev. No entanto, segundo a pesquisadora, ele parece acreditar que precisa do apoio dos Estados Unidos para pressionar a Ucrânia a negociar, em vez de resistir à invasão russa.

Na entrevista, Putin enfatizou repetidamente a necessidade de uma solução diplomática para a guerra, mas destacou que os EUA precisam interromper o envio de ajuda militar à Ucrânia e convencer os líderes ucranianos a sentarem-se à mesa de negociações.

Para Putin, o fim do conflito depende da capacidade dos EUA de influenciar a Ucrânia a abandonar a resistência e aceitar negociar, observou Tatiana, que diz que o chefe do Kremlin acredita que esta é uma oportunidade crucial que “não deve ser desperdiçada”.

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