Explosão do gasoduto Nord Stream foi obra de um ex-coronel ucraniano, aponta investigação

Investigação aponta que sabotagem foi orquestrada por liderança militar ucraniana e não passou pelo presidente Volodymyr Zelensky

Um oficial militar ucraniano ligado à inteligência do país coordenou o ataque aos gasodutos Nord Stream no ano passado, segundo uma investigação conjunta do jornal The Washington Post e da revista alemã Der Spiegel, cujas descobertas foram publicadas no sábado (11). O ato de sabotagem, que gerou várias investigações criminais e foi classificado como um ataque perigoso à infraestrutura energética da Europa, é a primeira evidência direta que conecta envolvimento da liderança militar e de segurança de Kiev.

Em setembro de 2022, explosões destruíram seções do gasoduto no Mar Báltico responsável por transportar gás natural russo para a Alemanha. Por trás da operação esteve Roman Chervinsky, um coronel condecorado de 48 anos que serviu nas forças de operações especiais da Ucrânia. Ele gerenciou a logística e apoiou uma equipe de seis pessoas que alugou um veleiro com identidades falsas e usou equipamentos de mergulho em alto mar para colocar cargas explosivas nos gasodutos.

O ataque beneficiou a Ucrânia ao prejudicar severamente a capacidade da Rússia de faturar milhões de dólares com a venda de gás natural para a Europa Ocidental. Em contrapartida, fez disparar os preços da energia para os principais aliados de Kiev, em especial Berlim.

Navios envolvidos na construção do gasoduto Nord Stream na ilha de Rügen, na Alemanha (Foto: Jürgen Mangelsdorf/Flickr)

Os dutos são responsáveis pelo abastecimento de 40% do gás natural consumido pelos alemães. Apesar de ser propriedade da estatal russa Gazprom, outras cinco empresas europeias investiram metade dos recursos para o oleoduto: ShellUniperOMVWintershall e Engie.

Chervinsky, sob ordens de superiores ucranianos que respondiam ao general Valery Zaluzhny, o oficial militar de mais alta patente da Ucrânia, não planejou nem executou sozinho a operação, conforme fontes que falaram sob condição de anonimato. O atentado abalou as relações diplomáticas com a Ucrânia e gerou críticas dos EUA.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, negou envolvimento nas explosões do oleoduto. Em junho, ele afirmou ao jornal alemão Bild que “nunca faria isso” e pediu provas.

O The Washington Post sugere que a sabotagem foi planejada sem o conhecimento de Zelensky. Ambos os veículos que assinaram a reportagem buscaram um comentário do governo ucraniano, mas não receberam resposta.

À época do incidente, o Kremlin rejeitou com indignação as alegações de que a Rússia estaria por trás dos estragos na rede de tubulações no Mar Báltico. Na mesma época, Vladimir Putin também chamou a alegação de que Moscou usa a energia como arma de “um monte de bobagem”.

Chervinsky negou todas as acusações de envolvimento nos ataques ao gasoduto através de seu advogado. Atualmente, ele está se preparando para ser julgado em Kiev por alegações de que abusou de seu poder numa tentativa de fazer um piloto russo desertar.

Ele diz que a acusação é uma represália política devido às suas críticas a Zelensky, conforme relatado pela mídia local.

Chervinsky também é suspeito de desempenhar papel crucial em outras operações. Em 2020, ele teria liderado uma estratégia intrincada para atrair membros do Wagner Group para Belarus. O objetivo era capturar esses mercenários e transportá-los para a Ucrânia, onde seriam processados.

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