Conflitos em Ucrânia, Sudão e Guiana tiveram melhora em agosto, aponta pesquisa

Ferramenta mapeia todos os conflitos em andamento no mundo e indica os acontecimentos do último mês

A situação dos conflitos na Ucrânia, no Sudão e na Guiana teve melhora em agosto, segundo o rastreador Conflict Tracker, do Grupo de Crise Internacional, que mapeia o andamento de guerras em todo o mundo mês a mês.

Na outra ponta da lista, onde houve agravamento dos conflitos, estão os africanos Mali, Moçambique e Costa do Marfim, os latino-americanos Bolívia e Colômbia, o Líbano, no Oriente Médio, e Belarus, na Europa.

Entenda o contexto das guerras nesses países.

Conflitos em Ucrânia, Sudão e Guiana tiveram melhora em agosto, aponta pesquisa
Crianças sudanesas em Cartum, capital do Sudão (Foto: UN Photo/ Fred Noy)

Onde houve melhora

Na África

O governo sudanês conseguiu assinar um acordo de paz com grupos como a Frente Revolucionária Sudanesa e o Movimento de Libertação do Sudão, após quase um ano de negociação. Os rebeldes atuam no sul e no oeste do país. Ainda há grupos que rejeitam cessar-fogo e violência em algumas cidades e vilas no interior do país.

Houve protestos na capital sudanesa, Cartum, para lembrar o primeiro aniversário do governo de transição de três anos. Os atuais líderes tentam pacificar o país após a ditadura de Omar al-Bashir, deposto em 2019 após 30 anos. Entre as reivindicações estão maior rapidez nas reformas de reabertura. As manifestações foram contidas com gás lacrimogêneo e violência policial.

Na Europa

Na Ucrânia, houve um acordo de cessar-fogo entre a Rússia, os separatistas das regiões de Donestsk e Lugansk, no leste do país, e a OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação da Europa). As três partes são signatárias do Protocolo de Minsk, que desde 2014 tenta encerrar os conflitos.

Não houve mortes em agosto, mas as partes trocam acusações de desrespeito ao cessar-fogo com o uso de drones, fortificações e armas de menor porte. Representantes da UE (União Europeia) estiveram no país, em busca de acordos para iniciar a recuperação econômica.

Nas Américas

Na Guiana, o presidente eleito Irfaan Ali conseguiu tomar posse após quase cinco meses das eleições, ocorridas em março. Candidato da oposição, Ali foi impedido de começar seu mandato por meio de meses de disputa judicial iniciadas pelo então mandatário, David Granger.

Granger alegou fraude e, em 31 de agosto, foi à Justiça pedir uma nova eleição em 90 dias. O que está em jogo nas altas esferas do poder no país é o acesso às abundantes fontes de petróleo descobertas em seu litoral a partir de 2015.

A estimativa é a de que a receita do petróleo chegue a US$ 30 bilhões por ano em 2030, segundo a norueguesa Rystad, gigante do setor. Em 2019, o PIB (Produto Interno Bruto) do país foi de 10% deste valor.

Onde houve piora

Na África

O Mali, na África Ocidental, viveu mais um golpe de Estado no último dia 18 de agosto. Dessa vez, militares de baixa patente executaram um motim que removeu do poder o presidente Ibrahim Boubacar Keita. Na sequência, o presidente deposto renunciou formalmente ao cargo.

Keita já enfrentava manifestações populares desde junho, coordenadas pelo imã Mahmoud Dicko. O clérigo muçulmano coordenava os protestos e galvanizou oposição e setores da sociedade civil.

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Famílias aguardam atendimento da ONU em Gao, norte do Mali, em imagem de março de 2019 (Foto: UN Photo/Gema Cortes)

Na última semana, foi definido o governo de transição malinês. Um coronel reformado, Bah Ndaw, será o condutor do período transitório de um ano e meio. A Ecowas (Comunidade Econômica de Países da África Ocidental) pressionava por um civil, solicitação que não foi atendida.

No norte do país, continua o avanço de grupos jihadistas que já dominam parcelas significativas da região. O local, desértico, tem pouca presença do Estado e se tornou um problema para todos os países do Sahel, que têm auxílio da França, antiga metrópole, para aumentar a segurança.

Em Moçambique, o desafio é expulsar grupos jihadistas que tomaram a vila de Mocímboa da Praia, na região de Cabo Delgado. Pequenas tropas ligadas ao EI (Estado Islâmico) têm empreendido ataques coordenados na região desde março deste ano.

O local é próximo da fronteira com a Tanzânia, no norte do país, e vive da extração de gás natural. As reservas no norte moçambicano estão estimadas em cerca de US$ 60 bilhões.

Na Costa do Marfim, os conflitos residem na insistência do atual presidente, Alassane Ouattara, em concorrer a um terceiro mandato por meio de uma manobra constitucional. O pleito está programado para 31 de outubro.

As manifestações contra Ouattara começaram em 7 de agosto na capital, Abidjan. O governo tenta desencorajar os protestos com prisões, policiais à paisana e violência. Os candidatos da oposição pedem à população que vá às ruas em “desobediência civil”.

Na Europa

Belarus se tornou o mais recente palco de conflitos no continente após a controversa reeleição do presidente Aleksander Lukashenko, em 9 de agosto. O atual mandatário alega ter vencido com 80% dos votos sua sexta recondução ao cargo, que ocupa desde 1994.

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Svetlana Tikhanovskaya (ao centro) se junta à corrida eleitoral em Belarus (Foto: Julia Chapman/Twitter)

A candidata da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, deixou o país às pressas e está na vizinha Lituânia. Desde o pleito, a população está nas ruas da capital Minsk e de grandes cidades de Belarus, apelidada de “a última ditadura da Europa”.

Lukashenko já elencou forças internas, da Polícia à Suprema Corte, para conter as manifestações e garantir o próximo mandato. Também esteve na Rússia em busca de apoio do presidente Vladimir Putin.

Nas Américas

Além das manifestações contra a brutalidade policial que varrem a capital Bogotá, ataques de grupos guerrilheiros cresceram em agosto. A maioria ocorreu no sudoeste do país e ao longo da fronteira com a Venezuela.

Pequenos focos da guerrilha e ligados ao tráfico de drogas, como o ELN (Exército de Libertação Nacional) e as AGC (Autodefesas Gaitanistas da Colômbia) têm empreendido ataques em regiões pobres do país, como Cauca, Nariño e Chocó.

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O ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, fala em evento em fevereiro de 2017 (Foto: Flickr/Centro Democrático)

Na política, o ex-presidente Álvaro Uribe renunciou ao cargo de senador após acusações de que tentou fraudar investigações sobre seu envolvimento com auxílios a grupos paramilitares.

O atual mandatário e herdeiro político de Uribe, Iván Duque, acusou Caracas de patrocinar grupos guerrilheiros na fronteira em 20 de agosto.

Na Bolívia, os conflitos são de ordem eleitoral. Após a remoção do ex-presidente Evo Morales, então acusado de fraude, os principais nomes da direita local tentam impedir o avanço do candidato socialista, Luis Arce.

A presidente interina, Jeanine Áñez, abriu mão de sua candidatura para deslocar sua votação para o aliado Carlos Mesa, com cerca de 25% das intenções de voto. Mesa foi presidente entre 2003 e 2005.

Arce, do MAS (Movimento ao Socialismo) de Morales, lidera as pesquisas de opinião. As eleições bolivianas estão marcadas para 18 de outubro, após sucessivos adiamentos.

Houve manifestações por todo o país, com bloqueio de estradas e pedidos da ONU para que o governo garanta a proteção das instituições.

No Oriente Médio

Após a explosão no porto de Beirute, no Líbano, em 4 de agosto, o governo local entrou em colapso e o premiê, Hassan Diab, renunciou seis dias depois.

A França, antiga metrópole e garantidora do país junto à comunidade internacional, enviou o presidente Emmanuel Macron dois dias após a tragédia para “mediar” a situação.

Na capital libanesa, Macron afirmou que “se reformas não acontecerem, o Líbano continuará a afundar”. O FMI (Fundo Monetário Internacional) se comprometeu a auxiliar o Líbano e houve articulação para ajuda humanitária da ordem de US$ 250 milhões.

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Protestos em Beirute, na capital do Líbano, em 2019 (Foto: Wikimedia Commons)

Apenas no dia 31 houve consenso quanto ao nome do novo chefe de Governo. O substituto é o diplomata Mustafá Adib, ex-embaixador libanês na Alemanha, que agora vive o impasse de unir um sistema político sectário para formar um governo sem conflitos.

Neste sábado (26), Adib renunciou ao cargo sem conseguir formar governo.

O Líbano já vivia grave crise econômica, acompanhada de inflação em alta e moratória parcial na dívida externa. A população sofre agora os efeitos da tragédia, que matou 190 pessoas.

A explosão do porto devastou o maior silo de trigo do país e deixou os libaneses parcialmentes desabastecidos de um dos pilares da alimentação típica local.

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