Maior poluidora, China se recusa a pagar fundo climático para países em desenvolvimento

Após pequenas nações insulares citarem a responsabilidade de Beijing como um alto emissor de carbono, maior emissor de gases de efeito estufa do planeta disse que "não é abrigado a contribuir" com fundo de perda e danos climáticos

Maior adversária da qualidade do ar no mundo, a China disse na quarta-feira (9) que não está disposta a pagar um fundo de perdas e danos climáticos para países em desenvolvimento. A declaração foi uma resposta a um pedido feito um dia antes na COP27 (Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU), no Egito, por pequenas nações insulares, que atribuem principalmente a Beijing a responsabilidade de ser um alto emissor de carbono. As informações são da rede Voice of America (VOA News).

Falando em nome da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (Aosis), o primeiro-ministro de Antígua e Barbuda, Gaston Browne, se dirigiu aos principais emissores de gases de efeito estufa, China e Índia, e pediu para que participem de um fundo que possa levar uma reparação financeira aos países em desenvolvimento afetados pelas alterações climáticas.

Foi a primeira vez que os países em desenvolvimento incluíram Beijing e Nova Délhi entre as nações financeiramente responsáveis ​​pelas emissões. Em 2021, em meio a alta dos preços do gás natural e crise de energia, a China, maior emissora de gases do efeito estufa do planeta, atingiu sua mais ampla produção de carvão dos últimos anos. Na Índia, no mesmo ano, a poluição ultrapassou 20 vezes o limite recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Juntos, os países respondem por cerca de 40% das emissões globais.

Central elétrica alimentada a carvão na província de Henan, China (Foto: V.T. Polywoda/Flickr)

O enviado chinês ao Egito, Xie Zhenhua, disse na quarta-feira que Beijing apoiaria esse mecanismo, porém, não colocaria dinheiro no fundo de perdas e danos. Ele acrescentou que seu país “não é obrigado a contribuir”, mas reiterou o alinhamento do governo chinês com as nações em desenvolvimento para buscar o fundo junto a países desenvolvidos.

Embora lidere o ranking global da emissão de gases de efeito estufa, a China é tecnicamente um país emergente, o que a coloca no mesmo grupo dos países em desenvolvimento na COP para discussões climáticas.

Não é de agora que países em desenvolvimento cobram dos países ricos que honrem as promessas de injetar US$ 100 bilhões por ano para mitigação e adaptação ao clima. Mesmo assim, segundo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a cifra tem ficado bem aquém.

De acordo com reportagem da agência Associated Press, a poluição de carbono na China teve queda de 0,9% neste ano em comparação com 2021, com base em um estudo conduzido pela Global Carbon Project divulgado nesta sexta-feira (11) na COP27. Já nos EUA, as emissões registraram aumento de 1,5%. O estudo mostra uma tendência oposta, já que as emissões americanas estavam caindo constantemente à medida que a poluição chinesa estava aumentando até este ano.

Um mundo nunca visto

Embora a poluição por carbono esteja subindo no planeta, o aumento já não é tão vertiginoso como ocorria há uma década. Mas os cientistas não veem isso com otimismo, já que os índices atuais estão empurrando a Terra para mais perto de atingir – e depois ultrapassar – o limite de aquecimento de 1,5º Celsius, estabelecido desde os tempos pré-industriais.

“Isso significa que é melhor nos prepararmos para ultrapassar o alvo e entrar em um mundo que os humanos nunca experimentaram”, disse Michael Oppenheimer, cientista climático da Universidade de Princeton.

Além do crescimento das emissões nos EUA, a Índia teve um aumento de 6% em 2022, enquanto a Europa teve uma queda de 0,8%. O resto do mundo teve um aumento médio de 1,7% na poluição por carbono.

Enquanto isso, Beijing, que recebeu financiamento climático por anos, mas agora se tornou um país doador, parece mais focada nos esforços domésticos de mitigação do que nas contribuições internacionais, disse Gorild Merethe Heggelund, professor de pesquisa do Instituto Fridtjof Nansen em Oslo, que se concentra nas políticas de mudança climática da China.

“A China é altamente vulnerável às mudanças climáticas e vimos algumas das secas neste verão. Eles têm alguns desafios em casa que precisam enfrentar e estão enfrentando. Acho que podemos ver um pouco de diferença entre o que a China está fazendo no cenário global e nas negociações e o que está fazendo internamente”, disse ele.

Por que isso importa?

A ação climática está ganhando impulso. Desde o Acordo de Paris em 2015, os países intensificaram as medidas climáticas, e muitos se comprometeram a zerar as emissões líquidas até 2050. Isso significa que qualquer emissão adicional de carbono será integralmente compensada pelas emissões retiradas da atmosfera.

Contudo, o orçamento de carbono – o volume máximo de emissões permissível – para limitar o aquecimento global bem abaixo de 2° C está se esgotando rapidamente. Desastres mais frequentes e intensos, declínio na produtividade agrícola e elevação do nível do mar se tornarão cada vez mais comuns se esta meta crucial não for alcançada.

Uma previsão pessimista do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) divulgada em 2021 indica que, se a temperatura média global subir mais de 1,5° C nos próximos anos, haverá aumento de chuvas extremas e de inundações em todas as regiões da Europa, com exceção da área do Mediterrâneo. O nível do mar também irá aumentar, com a projeção de que essas mudanças sejam acentuadas após o ano de 2100.  

Se a temperatura global subir 2° C ou mais até meados do século, a previsão é de aumento das secas nas áreas agrícolas e ecológicas da Europa Ocidental.  

 

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