ONU alerta pra ‘colapso climático’ à medida que a qualidade do ar cai durante ondas de calor

O mais recente período de três meses, entre junho e agosto, foi o mais quente de todos os tempos, indicam os dados da OMM

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News

Amplificadas pelos incêndios florestais e pela poeira do deserto provocada pelas alterações climáticas, as ondas de calor mais frequentes estão levando a uma queda acentuada na qualidade do ar e na saúde humana, afirmou a Organização Meteorológica Mundial (OMM) em novo relatório divulgado na quarta-feira (6).

A notícia surge no momento em que o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, divulgou uma declaração com palavras fortes sobre um verão recorde de aquecimento global no hemisfério norte, de acordo com o serviço climático da União Europeia (UE), o Copernicus.

O planeta acaba de experimentar o agosto mais quente já registrado, por uma grande margem, e o segundo mês mais quente de todos os tempos depois de julho. Considerando junho, eles representam o período de três meses mais quente de todos os tempos, indicam os dados. E o ano é o segundo mais quente já registrado, atrás de 2016. 

“O nosso planeta acaba de passar por uma estação de fervura, o verão mais quente de que há registo”, disse Guterres, alertando que “o colapso climático já começou.” “Os dias de cão do verão não são apenas latidos, são mordidas”, continuou o chefe da ONU, descrevendo as consequências do vício desenfreado da humanidade em combustíveis fósseis. 

À medida que a crise climática provoca condições meteorológicas cada vez mais extremas em todo o mundo, o secretário-geral apelou aos líderes para “aumentarem agora a pressão por soluções climáticas”. 

Registro da poluição atmosférica severa em Anyang, China (Foto: V.T. Polywoda/Flickr)
Fator de ondas de calor

Boletim de Qualidade do Ar e do Clima da OMM de 2023, que surge na sequência da declaração do secretário-geral, coloca firmemente em destaque os danos causados ​​pelas ondas de calor. Ele observa que as altas temperaturas não são apenas um perigo por si só, mas também provocam poluição prejudicial.

Com base nos dados de 2022, o relatório mostra como as ondas de calor provocaram uma queda perigosa na qualidade do ar no ano passado. 

“As ondas de calor pioram a qualidade do ar, com repercussões na saúde humana, nos ecossistemas, na agricultura e, na verdade, na nossa vida quotidiana”, afirmou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, comentando as conclusões do relatório e acrescentando que as alterações climáticas e a qualidade do ar devem ser enfrentados em conjunto para quebrar um círculo vicioso.

Fermentação das mudanças climáticas

As alterações climáticas estão aumentando a frequência e a intensidade das ondas de calor.

“A fumaça dos incêndios florestais contém uma mistura de produtos químicos que afeta não apenas a qualidade do ar e a saúde, mas também danifica plantas, ecossistemas e colheitas. E leva a mais emissões de carbono e, portanto, a mais gases de efeito estufa na atmosfera”, explicou Lorenzo Labrador, membro da OMM.

A onda de calor do verão passado no norte do planeta levou ao aumento das concentrações de poluentes, como partículas nocivas e gases reativos, como os óxidos de nitrogênio.

Ilhas de calor urbanas

Quando se trata de calor, os moradores das cidades costumam vivenciar as condições mais intensas. Com infraestrutura densa e numerosos edifícios altos, as áreas urbanas acabam com temperaturas muito mais elevadas em comparação com o ambiente rural.

Este efeito é normalmente referido como a criação de uma “ilha de calor urbana”. A magnitude da diferença de temperatura varia, mas pode atingir até 9º C à noite. Como resultado, as pessoas que vivem e trabalham nas cidades sofrem um perigoso estresse térmico, mesmo à noite.

Porém, existe uma solução. Um estudo realizado em São Paulo, no Brasil, mostrou que tanto as medições de temperatura como de CO2 são parcialmente mitigadas pela incorporação de mais espaços verdes nas cidades, apontando para os benefícios de soluções baseadas na natureza para as alterações climáticas.

A OMM divulgou seu relatório na véspera do Dia Internacional do Ar Limpo, em 7 de setembro. O tema deste ano é “Juntos por um Ar Limpo”, centrando-se na necessidade de parcerias fortes, aumento do investimento e responsabilidade partilhada para superar a poluição atmosférica.

Tags: