ONU aponta oito razões para o mundo ter esperança no ano de 2023

Direito reprodutivos e justiça com os países afetados pelas mudanças climáticas estão entre os avanços celebrados recentemente

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) divulgou oito razões para se ter esperança no ano que está para começar. Embora a retrospectiva mostre notícias carregadas de conflitos, violência e previsões desanimadoras para o futuro, a agência destaca que também há progressos a serem celebrados.

Confira a lista do UNFPA para sair de 2022 com mais esperança do que tristeza e entrar no Ano Novo com expectativas altas e renovando o compromisso com os direitos humanos e bem-estar.

1.    Tendência global de fortalecer os direitos reprodutivos

O UNFPA destaca que, embora haja exceções notáveis à tendência de fortalecimento dos direitos reprodutivos e acesso a serviços de saúde, uma pesquisa em 153 países com quase 90% da população mundial revelou que 76% das nações têm leis que defendem os direitos sexuais e reprodutivos.

É verdade que a pandemia de Covid-19 retrocedeu o progresso sobrecarregando os sistemas de saúde, interrompendo as cadeias de suprimentos e reduzindo informações e serviços.

Esses desafios continuam preocupantes, com defensores e especialistas em saúde redobrando seus esforços para alcançar todos os necessitados. Ainda assim, a tendência geral é promissora.

O relatório do UNFPA 2022 sobre a população global pediu que a gravidez indesejada seja reconhecida como uma crise global. Líderes políticos e da sociedade civil atenderam a esse apelo, reconhecendo como trágico e inaceitável o fato de que quase metade de todas as gestações não são intencionais.

Mulheres impedidas de abortar no Equador: Aminta Zambrano, o filho de seis anos, com paralisia infantil, e a filha mais velha, Fernanda, de 17 anos, grávida. (Foto: UNICEF/ECU/2016/Arcos)
2.    Justiça está avançando

O ano passado trouxe insegurança alimentar, crises de combustível e muitas outras emergências nas quais os mais pobres e marginalizados foram os mais afetados.

Assim, pode ter passado despercebido que as estruturas de justiça para remediar erros históricos, chamar a atenção para sistemas de opressão, priorizar os mais vulneráveis, estão sendo cada vez mais aplicadas aos maiores problemas do mundo.

O UNFPA destaca o acordo histórico na COP27 em novembro, que deve fornecer financiamento para “perdas e danos” aos países mais impactados pela mudança climática, em reconhecimento à sua exposição aos eventos do clima, catástrofes para as quais eles contribuíram minimamente.

Os líderes também estão fazendo apelos poderosos por justiça sexual e reprodutiva.

Em novembro, um novo relatório da Comissão de Alto Nível na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento pediu aos países, defensores e formuladores de políticas a combater “formas de opressão cruzadas que impedem a justiça sexual e reprodutiva”.

O documento também apela para que as autoridades reconheçam e apoiem “a liderança e o poder dos grupos mais excluídos, particularmente mulheres e meninas marginalizadas e deem suporte aos esforços das mulheres e de suas comunidades”.

3.    Mulheres pedem segurança em espaços digitais

Uma infeliz realidade é que muitos espaços digitais não são seguros para mulheres e meninas. Mais de oito em cada dez testemunharam violência facilitada pela tecnologia, como bullying cibernético e compartilhamento sem autorização de imagens íntimas.

Mas em 2022, muitas dessas mulheres e meninas se levantaram para dizer basta. Nos últimos dois anos, a premiada campanha de direitos corporais do UNFPA pediu maior proteção para mulheres, meninas e membros de comunidades marginalizadas contra o abuso digital.

Semelhante em conceito aos direitos autorais, o símbolo com a letra b no centro representa empoderamento, propriedade e uma reivindicação de autonomia corporal.

Desde o lançamento do bodyright em 2021, mais de 30 mil pessoas assinaram a petição do UNFPA pedindo aos formuladores de políticas e empresas de tecnologia que reconheçam a violência online onde ela acontece e acabem com ela.

Esse é um sinal claro de solidariedade com os sobreviventes, que não vai parar até que mulheres e meninas possam viver livremente e sem medo, seja na internet ou fora dela.

4.    Violência sexual em conflitos está sendo abertamente condenada

No Dia Internacional para a Eliminação da Violência Sexual em Conflitos, a diretora executiva do UNFPA, Natalia Kanem, lembrou as consequências da violência sexual: “Ela brutaliza corpos, deixa cicatrizes nas mentes e até mata. Silencia e envergonha as mulheres, semeando medo e insegurança”.

No ano passado, mulheres e meninas em emergências humanitárias em todo o mundo enfrentaram uma tendência preocupante: o risco de que a violência sexual se tornasse normal em suas comunidades em meio ao conflito.

No entanto, esta forma de violência baseada no gênero é tudo menos normal: é uma violação dos direitos humanos e um crime no direito internacional. E deve acabar.

Os programas humanitários do UNFPA pelo mundo ajudaram milhares de centros de saúde a oferecer atendimento especializado para estupro e outras formas de violência e apoiaram milhões de sobreviventes.

5.    Ativistas estão criando mudanças e interrompendo práticas prejudiciais

A implementação de novas práticas e a mudança de normas antigas e prejudiciais leva tempo e determinação, mas em todo o mundo as pessoas têm criado maneiras de acelerar o processo, desde a entrega de suprimentos por meio de drones até unidades móveis de maternidade que ajudam mulheres a dar à luz em uma crise e uma nova tecnologia projetada para que mulheres e meninas se sintam mais seguras online.

No Laos e nas Maldivas, as equipes do UNFPA estão usando a plataforma TikTok para treinar parteiras e estimular o debate sobre autonomia corporal, e em Bangladesh um aplicativo blockchain está entregando produtos para menstruação.

Em todos os continentes e gerações, a inovação está liderando o caminho: fazendo campanha pela mudança, desafiando crenças prejudiciais e ajudando mulheres e meninas a se protegerem.

6.    Saúde mental como prioridade global

Dos níveis crescentes de ansiedade e depressão relatados durante a pandemia ao estresse pós-traumático para aqueles envolvidos em conflitos e emergências climáticas, o mundo está vendo um aumento alarmante nas preocupações com a saúde mental.

Mulheres e jovens são os mais afetados, seja sobrevivendo à violência de gênero, sendo forçados a se casar precocemente, sofrendo mutilação genital feminina, fístula obstétrica, gravidez indesejada ou abuso online – todos fatores significativos na depressão e sofrimento psicológico.

Nos últimos anos turbulentos, o UNFPA ampliou seu apoio psicossocial, encaminhamentos para assistência jurídica e serviços médicos e expandiu o acesso a espaços e abrigos seguros.

A agência está ajudando meninas que sobreviveram à violência sexual e ao casamento infantil, mulheres atacadas por se manifestarem e terem uma carreira e milhões de pessoas discriminadas por causa de onde nasceram ou porque vivem com alguma deficiência.

Em todo o mundo, o estado de saúde mental parece estar em crise; mas é uma crise para a qual o UNFPA, com sua força de linha de frente de enfermeiras, médicos, parteiras e humanitários, estão empenhados em dar assistência.

Cartaz de estrada da campanha contra a mutilação genital feminina em Uganda (Foto: Wikicommons)
7.    Menstruação reconhecida como uma questão de direitos humanos

Um enorme progresso foi feito na última década ao destacar que a menstruação não é apenas uma questão de saúde, higiene e dignidade, mas também uma questão de igualdade de gênero e direitos humanos.

Os defensores mudaram de opinião sobre a menstruação em todos os níveis, inclusive nas Nações Unidas, onde o Conselho de Direitos Humanos adotou uma resolução chamando o estigma, a vergonha e a exclusão da menstruação como preocupações de direitos humanos.

Os formuladores de políticas nacionais também estão abordando a questão, com países aprovando a distribuição gratuita de produtos de higiene. Muitos outros estão abordando a questão financeira da compra desses insumos, bem como destacando a necessidade de empregos e salas de aula para acomodar pessoas menstruadas.

8.    Humanidade atingiu 8 bilhões de pessoas.

Em 15 de novembro de 2022, a população global atingiu seu nível mais alto: oito bilhões.

Essa conquista histórica reflete um mundo em que mais mulheres sobrevivem ao parto, mais crianças sobrevivem à infância e mais pessoas vivem vidas mais longas e saudáveis.

“É uma prova de décadas de progresso na saúde pública e na redução da pobreza, e é uma história de sistemas de saúde mais resilientes e eficazes”, disse Natalia Kanem.

Para o UNFPA, esses ganhos devem ser protegidos, pois os desafios, incluindo a pandemia de Covid-19, conflitos e mudanças climáticas, ameaçam reversões.

Mas, com oito bilhões de nós agora na Terra, surgem oito bilhões de motivos de esperança de que, juntos, podemos construir um futuro mais inclusivo, justo e sustentável – um mundo de infinitas possibilidades.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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