ONU planeja cortar quase sete mil cargos e reduzir orçamento em 20%, aponta documento

Secretariado pede propostas de cortes até 13 de junho, em resposta a crise financeira agravada por dívidas dos EUA e da China

O Secretariado da ONU (Organização das Nações Unidas) prepara um corte drástico de cerca de 20% no orçamento de US$ 3,7 bilhões e pretende eliminar aproximadamente 6,9 mil postos de trabalho a partir de 1º de janeiro de 2026. A medida foi anunciada por meio de um memorando interno obtido pela agência Reuters.

A orientação foi assinada por Chandramouli Ramanathan, controlador financeiro da organização, que solicitou às equipes da entidade propostas de redução de gastos até 13 de junho. Embora o documento não mencione diretamente os EUA, a crise financeira que motivou os cortes é atribuída, em grande parte, ao não pagamento de contribuições obrigatórias por parte do país, responsável por quase um quarto do financiamento da ONU, e em menor escala da China.

Os EUA acumulam atualmente uma dívida de quase US$ 1,5 bilhão com a organização, considerando inadimplências de anos anteriores e do atual exercício fiscal. Além disso, o governo do presidente Donald Trump promoveu cortes em programas de ajuda externa que afetaram gravemente agências humanitárias da ONU.

Secretário-geral da ONU, o português António Guterres (Foto: UN Photo/Evan Schneider)

“O esforço é ambicioso e visa garantir que a ONU esteja preparada para apoiar o multilateralismo do século XXI, reduzir o sofrimento humano e construir vidas e futuros melhores para todos”, afirmou Ramanathan no memorando. “Conto com sua cooperação nesse esforço coletivo, que reconhecidamente tem prazos agressivos.”

Durante reuniões com diplomatas no mês de maio, o secretário-geral António Guterres adiantou que estuda uma reestruturação ampla da entidade, incluindo a fusão de departamentos, transferência de pessoal para cidades com menor custo, eliminação de sobreposições e extinção de estruturas redundantes.

“Estes são tempos de perigo, mas também de oportunidade e obrigação profundas”, disse Guterres no dia 12. “Decisões difíceis e desconfortáveis nos aguardam. Ignorá-las pode parecer mais fácil, mas esse caminho leva a um beco sem saída.”

Além dos atrasos dos EUA, a ONU enfrenta problemas semelhantes com a China, que tem feito seus pagamentos com frequência fora do prazo. Juntos, os dois países respondem por mais de 40% do orçamento da entidade. Em abril, Tom Fletcher, chefe do Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários, afirmou a funcionários que os cortes americanos obrigariam a agência a demitir 20% de sua equipe, diante de um déficit de US$ 58 milhões.

Questionado sobre os cortes planejados, um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse apenas que uma análise ordenada por Trump sobre o financiamento à ONU e a outras organizações internacionais está em andamento e deve ser concluída até o início de agosto.

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