Com o risco de uso de armas nucleares em um patamar tão elevado — ou até maior — em meio aos conflitos na Europa e no Oriente Médio envolvendo países com armamento nuclear, cientistas ao redor do mundo têm solicitado uma compreensão mais aprofundada sobre os efeitos de uma guerra nuclear. As informações são da Radio Free Asia.
Em resposta a esse apelo, os delegados do Primeiro Comitê da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) aprovaram na última sexta-feira (1º) a criação de um grupo composto por 21 especialistas científicos para analisar os efeitos físicos e sociais de uma guerra nuclear e atualizar o conhecimento sobre esse risco, marcando o primeiro estudo do tipo em mais de 30 anos.
O Primeiro Comitê de Desarmamento da ONU aprovou uma resolução proposta por 20 países, com 144 votos a favor, três contra e 30 abstenções. Apenas Rússia, Reino Unido e França, todos estados com armas nucleares, votaram contra a resolução. Estados Unidos, Índia, Israel, Coreia do Norte e Paquistão se abstiveram, enquanto a China apoiou a medida.
Defensores da resolução afirmam que é essencial atualizar e ampliar as pesquisas sobre os efeitos devastadores de um conflito nuclear, especialmente em um contexto de tensões geopolíticas elevadas e de aumento na retórica nuclear.
O painel instituído pela ONU terá a responsabilidade de “investigar os efeitos físicos e as consequências sociais de uma guerra nuclear em diferentes escalas — local, regional e global. Isso incluirá, entre outros aspectos, os impactos climáticos, ambientais e radiológicos, bem como suas implicações para a saúde pública, os sistemas socioeconômicos globais, a agricultura e os ecossistemas, desde os dias imediatos até as décadas seguintes a um conflito nuclear”. O grupo deverá produzir um relatório detalhado sobre suas descobertas.
Embora existam muitos estudos detalhados sobre os impactos das armas nucleares, há 35 anos não se reúne toda essa informação em uma única análise abrangente. Nesse período, as ferramentas para modelar o clima e fazer projeções científicas evoluíram muito, e este novo estudo permitirá que os cientistas incorporem essas melhorias para entender melhor os efeitos de uma guerra nuclear. Além disso, o contexto social e ambiental mudou bastante, e a resolução da ONU reconhece que o mundo hoje está altamente interconectado, o que torna mais provável que grandes eventos tenham efeitos complexos e em cascata sobre sistemas e sociedades em escala global.
O último estudo obrigatório da ONU sobre os efeitos da guerra nuclear foi divulgado em 1988 e focava nas mudanças climáticas. Naquela época, a França era a única potência que ainda conduzia testes nucleares no Pacífico, tendo detonado mais 29 dispositivos até 1996.
Os efeitos dos testes de armas nucleares são perceptíveis em toda a região do Pacífico, especialmente nas Ilhas Marshall e na Polinésia Francesa.
Em setembro, um relatório apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU destacou os desafios aos direitos humanos resultantes dos testes nucleares dos EUA nas Ilhas Marshall, que ocorreram entre 1946 e 1958. As 67 detonações deixaram impactos negativos na saúde, no meio ambiente, nas condições de moradia e nos direitos indígenas. A presidente marshallina Hilda Heine afirmou que esses testes causaram “cicatrizes profundas” no país.
O Boletim dos Cientistas Atômicos ajustou o Relógio do Juízo Final para 90 segundos antes da meia-noite, em grande parte devido às ameaças da Rússia de usar armas nucleares na guerra contra a Ucrânia.
Embora haja menos ogivas nucleares do que em 1986, mais países têm armas em seus arsenais, e os estoques estão aumentando. No início de 2024, nove países, Rússia, Estados Unidos, França, China, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte, possuíam cerca de 12.121 ogivas, conforme a Federação de Cientistas Americanos.