Relógio do Juízo Final não se aproxima da meia-noite, decidem cientistas

Apesar de ameaças nucleares, mudanças climáticas e tecnologias disruptivas, como IA e novas biotecnologias, simbólico ponteiro não se mexeu em 2024

Uma renovada corrida armamentista nuclear, o tumultuado cenário na Ucrânia, a guerra em Gaza e a escalada das tensões na região, as temperaturas atingindo picos inéditos e a agitação em torno da inteligência artificial (IA) não foram suficientes: o Relógio do Juízo Final manterá sua posição em 2024, indo na contramão das expectativas. As informações são da rede BBC.

No ano passado, o Boletim dos Cientistas Atômicos (BPA, na sigla em inglês), encarregado de definir o tempo anualmente, moveu o ponteiro do relógio para 90 segundos antes da meia-noite, indicando o momento crítico do apocalipse. Foi a situação mais próxima da aniquilação registrada pelo Doomsday Clock, criado em 1947, após a Segunda Guerra Mundial, por Julius Robert Oppenheimer e outros cientistas norte-americanos que desenvolveram a bomba atômica.

O ponteiro do relógio avançou 25 vezes desde 1947, quando iniciou a sete minutos para a meia-noite. Ao término da Guerra Fria, em 1991, recuou para 17 minutos para a zero hora.

Relógio japonês derretido pela bomba nuclear da Segunda Guerra Mundial (Foto: WikiCommons)

Atualmente, o horário do Relógio do Juízo Final é definido por especialistas em ciência e segurança, que analisam ameaças humanas, como mudanças climáticas, armas nucleares e novas tecnologias disruptivas como, além da IA, a biotecnologia, conforme indicado pelo Boletim.

Em coletiva de imprensa na terça-feira (23), Rachel Bronson, presidente e CEO do BPA, destacou duas mensagens cruciais em sua declaração: primeiro, que a marca de 90 segundos para a meia-noite é “profundamente instável e não deve gerar complacência”; segundo, que o avanço rápido da tecnologia está “ultrapassando nossa capacidade de governá-la.”

Desde 2007, o Boletim dos Cientistas Atômicos tem analisado os impactos de novos riscos, como a IA e as mudanças climáticas, além da ameaça constante da guerra nuclear. No anúncio deste ano, foram destacados os elevados investimentos da China, Rússia e EUA em seus arsenais nucleares, aumentando o perigo de uma guerra nuclear por erro.

A guerra na Ucrânia também trouxe um risco persistente de escalada nuclear. A falta de ações contra as alterações no clima e os perigos ligados ao “uso indevido” de tecnologias emergentes, incluindo a IA, foram mencionados como preocupações adicionais, observou o BPA.

Rachel enfatizou que os países que possuem armas nucleares estão implementando programas de modernização que colocam em risco o surgimento de uma nova corrida armamentista nuclear. Ela lembrou que o planeta experimentou seu ano mais quente já registrado, com o aumento de desastres climáticos como inundações e incêndios, e que a falta de ação diante das mudanças climáticas ameaça significativamente bilhões de vidas e meios de subsistência.

Embora a pesquisa biológica, focada na prevenção de futuras pandemias, tenha se mostrado benéfica, ela também apresenta o “risco potencial de desencadear uma pandemia”, acrescentou a CEO. Além disso, os avanços recentes na inteligência artificial suscitam diversas questões sobre como controlar uma tecnologia capaz de aprimorar ou “ameaçar a civilização de várias maneiras”, disse Rachel.

Apesar de décadas de acordos de controle de armas, ainda existem aproximadamente 13 mil ogivas nucleares no mundo, com 90% delas pertencendo a Rússia e Estados Unidos.

Além desses, outros seis países são reconhecidos como potências nucleares: Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão e Coreia do Norte. Há suspeitas de que Israel possua armas nucleares, mas isso nunca foi confirmado. Vale destacar que as armas nucleares modernas são significativamente mais poderosas do que aquelas que devastaram Hiroshima e Nagasaki.

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