Pandemia aumenta crimes contra crianças em zonas de conflito, diz ONU

Crise gerada pela Covid-19 aprofundou vulnerabilidade ao sequestro, recrutamento a grupos armados e violência sexual

Com a pandemia de Covid-19, cresceram os registros de crimes cometidos contra crianças em zonas de conflito, alertou o mais novo relatório da ONU (Organização das Nações Unidas), divulgado nesta segunda (21).

O documento aponta que a crise resultante da pandemia aumentou a vulnerabilidade de menores a crimes como sequestro, recrutamento para grupos armados e violência sexual. Foram registrados 26.425 casos de crianças vítimas de violações em cenários de guerra em 2020.

Os casos verificados de rapto e violência sexual de menores cresceram 90% e 70%, respectivamente. Na maioria dos casos, crianças capturadas atuam como “barreira humana” em conflitos e como escravos sexuais.

Pandemia acentuou violações contra crianças em zonas de conflito, diz ONU
Criança reugiada usa máscara em Nairóbi, Quênia, julho de 2020 (Foto: Unicef/Alissa Everett)

Afeganistão, República Democrática do Congo, Somália, Síria e Iêmen registraram o maior número de crimes graves contra menores. O número de crianças mortas ou feridas em conflitos chega a 8,4 mil. Cerca de 7 mil teriam sido recrutadas para lutar, sobretudo na República Democrática do Congo, na Somália, na Síria e em Mianmar.

Sem acesso a educação, saúde e serviços sociais devido à pandemia, as crianças tornam-se alvos ainda mais fáceis de criminosos. “As guerras dos adultos têm tirado a infância de milhões de crianças. Além de ser devastador para elas e suas comunidades, os abusos acabam com a chance de uma paz sustentável”, disse Virginia Gamba, secretária-geral na agência Children and Armed Conflict.

Além das violações às crianças, ataques a escolas e hospitais também foram prevalentes em 2020. E o fechamento de instituições de ensino com o objetivo de combater a Covid-19, em meio ao lockdown em alguns países, ainda permitiu a ocupação militar de muitos desses espaços.

Críticas

A organização Save the Children criticou o relatório por não incluir muitos dos autores das violações contra crianças na chamada “lista da vergonha”. Trata-se de anexo do documento que destaca países e entidades que não garantem a proteção de menores em meio a conflitos.

Conforme a organização, a coalizão saudita que combate os rebeldes houthis no Iêmen não entrou na lista, apesar de matar e mutilar até 194 crianças em 2020. “A a coalizão recebe luz verde para continuar destruindo a vida de crianças no Iêmen”, diz em nota.

A entidade também questionou a ausência de Israel na lista. A ONU registrou mais de mil violações graves contra 340 palestinos na Cisjordânia ocupada, além de Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza. Só no ano passado, as forças do Estado judeu mataram oito crianças palestinas. Outras 87 relataram maus-tratos e violência física em detenção.

Apesar da inclusão de Mianmar na relação, faltaram países como Etiópia, Moçambique e Ucrânia, disse a Save the Children. “Embora tenha havido alguns passos positivos neste ano, não aplicar os mesmos critérios de forma justa e consistente pode ter consequências dramáticas para as crianças”, disse Inger Ashing, líder da organização.

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