Ranking de liberdade de imprensa põe desinformação como maior desafio global

Lista elaborada pela ONG Repórteres Sem Fronteiras tem Coreia do Norte e China na rabeira, com Brasil em 92º entre 180 nações

A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgou nesta semana a 21ª edição de seu Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa, que anualmente marca o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, em 3 de maio. Em 2023, a entidade chama a atenção para os “efeitos fulminantes da indústria de conteúdos falsos”, com envolvimento ativo de entidades e agentes estatais em campanhas de desinformação ou propaganda.

“A diferença entre verdadeiro e falso, real e artificial, fatos e artefatos é tênue, pondo em risco o direito à informação. Capacidades de manipulação sem precedentes são usadas para enfraquecer aqueles que personificam o jornalismo de qualidade, ao mesmo tempo em que enfraquecem o próprio jornalismo”, diz o relatório da ONG.

Protesto em Hong Kong pela liberdade de imprensa e de expressão (Foto: ReflectionandSeeing/Flickr)

O Brasil aparece em destaque no ranking, sendo quem mais ganhou posições nas Américas. Na edição 2023, o país surge em 92º lugar entre 180 nações, um salto de 18 posições em relação ao 110º lugar de 2022.

De acordo com a ONG, “a derrota de Jair Bolsonaro nas urnas, que atacou sistematicamente jornalistas e meios de comunicação durante todo o seu mandato, renovou as esperanças de uma volta à normalidade nas relações entre o Estado e a imprensa”.

Enquanto a primeira posição continua ocupada pela Noruega, que mantém o posto pelo sétimo ano consecutivo, a vice-liderança agora é da Irlanda, primeiro país não nórdico a figurar ali. Dinamarca, Suécia e Finlândia completam o top 5.

Já a parte inferior da tabela tem três nações asiáticas: “o Vietnã (178º), que aperfeiçoou sua caça aos repórteres e comentaristas independentes; a China (179º), maior prisão para jornalistas do mundo e uma das principais potências exportadoras de conteúdo de propaganda; e, não surpreendentemente, a Coreia do Norte (180º)”.

Christophe Deloire, secretário-geral da RSF, destaca a volatilidade observada de 2022 para 2023, com ascensões e quedas significativas e mudanças sem precedentes nas posições. “Essa instabilidade é o efeito do aumento da agressividade das autoridades em muitos países e da crescente animosidade contra os jornalistas nas redes sociais e fora delas. A volatilidade também é produto do crescimento da indústria do simulacro, que cria e distribui desinformação e fornece ferramentas para fabricá-la”, diz ele.

A China é um dos expoentes dessa volatilidade, tendo caído quatro posições em relação ao ranking do ano anterior. Quem também sofreu forte variação, para pior, foi a Turquia, agora em 165º, 14 posições abaixo da que ocupava em 2022. A maior variação, porém, foi a do Butão, que caiu 57 postos e agora está em 90º lugar. Pesa para isso o fato de o maior jornal do país, o Kuensel, pertencer ao governo.

Quem ganha atenção especial da RSF é a Índia, 161ª colocada, 11 posições a menos que na lista anterior. O relatório destaca o fato de que “toda a grande imprensa é agora propriedade de industriais próximos do primeiro-ministro Narendra Modi”. Isso cria um regime “híbrido”, no qual a imprensa é oficialmente desconectada do Estado, mas mantém laços estreitos com líderes políticos.

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