Tecnologia de semicondutores é nova barreira no duelo China-EUA

Washington busca separação dos chineses no setor, estratégico, e que deve mudar os rumos da tecnologia da informação

Uma indústria de US$ 500 bilhões e considerada tecnologia estratégica é uma das principais afetadas pela “guerra fria” entre China e EUA: a produção de semicondutores.

Os complexos componentes são fundamentais na fabricação de computadores e telefones celulares e um dos principais flancos industriais da China no campo da alta tecnologia.

Um relatório da consultoria de risco político Eurasia Group, de setembro deste ano, aponta que a China tem vulnerabilidade nesse setor e ainda depende de fábricas em Taiwan para combinar tecnologia de ponta e custos menores na linha de produção.

A aproximação dos EUA com a ilha reivindicada pela China também envolve a questão dos semicondutores. A TSCM (Companhia de Manufatura de Semicondutores de Taiwan, em inglês) tem recebido vastos recursos e incentivos para instalar plantas ultrassofisticadas em território norte-americano.

Em paralelo, há pressão de Washington para que as empresas escolham linhas de produção azuis, dos EUA, ou vermelhas, da China. Por isso o papel cada vez mais estratégico da ilha – mas, caso a China se perceba isolada de componentes vitais para sua produção, há risco de forte reação seguida por impactos nas cadeias globais de produtos, diz o relatório.

Tecnologia de semicondutores é nova barreira no duelo China-EUA
Semicondutor em linha de produção; indústria já é desafio geoestratégico (Foto: Pxfuel)

Neste caso, a chance de um conflito direto é pequena. Mas a China optar por nacionalizar plantas taiwanesas em seu território, aumentar a espionagem industrial e roubo de propriedade intelectual, além de impor sanções a empresas estrangeiras que não colaborem com seus projetos.

Hoje, além da empresa taiwanesa, apenas a sul-coreana Samsung fabrica semicondutores de ponta para o mercado global. Logo atrás vem a norte-americana Intel.

Preparação chinesa

Do lado chinês, o governo tem injetado quantidades cada vez maiores de capital para impulsionar a indústria de semicondutores na China continental. Mesmo assim, o país deve permanecer dependente de itens vindos do exterior para montar suas peças.

Nos próximos anos, espera-se uma gradual diminuição dessa dependência por parte da China – após a maturação desses investimentos em pesquisa e desenvolvimento no setor de semicondutores.

Mas o processo de separação das linhas de produção da China e do Ocidente gerará novos riscos à indústria de tecnologia da informação e de comunicações, que movimenta cerca de US$ 5 trilhões por ano, estima a consultoria.

Basta observar a estratégia dos EUA para garantir que seus aliados não escolhessem a Huawei, gigante chinesa do setor de telecomunicações, para a instalação da tecnologia 5G em seus territórios. Washington tem investido no bloqueio no acesso de parte desses componentes como forma de desestimular a escolha pela empresa chinesa.

Indústria do futuro

A política industrial norte-americana em relação aos semicondutores não deve mudar no governo de Joe Biden, que toma posse em 20 de janeiro de 2021. Mas não deve haver separação total entre as linhas do país e as chinesas, o que imporia um altíssimo custo de implementação.

A consultoria vê uma manutenção da política de atrair empresas interessadas em fabricar os componentes mais avançados nos EUA – além de computação quântica e inteligência artificial – e manterá uma postura assertiva em relação à Huawei.

Para a China, os principais desafios estão no desenvolvimento de capital humano apto para trabalhar na produção dos semicondutores, a falta de experiência com as tecnologias muito avançadas a concorrência.

Já entre suas trunfos há o tamanho do mercado, uma população bem treinada em disciplinas de STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) e apoio estatal – seja no financiamento ou na política industrial direcionada por Beijing.

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