Abaixo-assinado com um milhão de assinaturas insta Fifa a compensar migrantes explorados no Catar

País árabe é acusado de uma série de abusos contra trabalhadores, como retenção de salários e até mortes em obras de estádios

Um abaixo-assinado com cerca de um milhão se assinaturas, entregue à Fifa às vésperas da reunião de seu Conselho, que começa terça-feira (14), em Ruanda, insta a entidade que comanda o futebol mundial a oferecer uma compensação financeira aos migrantes explorados nas obras do Catar para a Copa do Mundo do ano passado. As informações são da ONG Anistia Internacional.

“Os trabalhadores sofreram abusos horríveis para ajudar a realizar uma Copa do Mundo que rendeu bilhões de dólares à Fifa, mas trouxe um custo humano de famílias endividadas e mortes de trabalhadores”, disse Steve Cockburn, chefe de justiça econômica e social da Anistia. “Embora nada possa substituir a perda de um ente querido, não há dúvida de que a Fifa tem os recursos para ajudar a consertar essas injustiças e fornecer apoio que muda a vida dos trabalhadores e suas famílias”. 

Acidentes e mortes de operários no Catar foram registrados após o país ter sido escolhido sede da Copa do Mundo de futebol de 2022 (Foto: Unsplash/Josue Isai Ramos Figuer)

O documento conta com cerca de um milhão de assinaturas de pessoas em mais de 190 países. Junto dele foram entregues camisetas personalizadas que lembram os uniformes usados por muitos dos trabalhadores vitimados pelos abusos.

“Ao apresentar as camisas de futebol no museu da Fifa em Zurique, exigimos que a organização reconheça o sacrifício dos trabalhadores migrantes e que suas reivindicações pendentes de compensação sejam atendidas”, disse Cockburn.

O dinheiro a ser usado para compensar os migrantes seria proveniente de um fundo criado pela própria Fifa em novembro de 2022, pouco antes do início da competição. Porém, até hoje a entidade que rege o esporte mais popular do mundo não informou qual seria o destino da verba disponível.

“Chegou a hora de a Fifa lidar adequadamente com suas responsabilidades, em vez de simplesmente passar a responsabilidade para o Catar. Já passou da hora de os líderes do futebol fazerem uma promessa clara aos trabalhadores maltratados”, declarou o chefe de justiça econômica e social da Anistia.

As denúncias que pesam contra o Catar falam em recrutamento ilegal de trabalhadores, a exigência de que eles pagassem taxas para conseguir as vagas, salários retidos durante a prestação do serviço, operários feridos e até mortes nas construção de estádios e outras obra de infraestrutura ligadas à Copa do Mundo.

“A falta de investigações sobre as causas das mortes de trabalhadores significa que o verdadeiro impacto do calor extremo e das condições de trabalho extenuantes do Qatar nunca será totalmente conhecido”, diz relatório divulgado pela Anistia.

O governo do Catar, como a Fifa, também chegou a criar um fundo de compensação para trabalhadores cujos salários não foram devidamente pagos. Porém, a maioria das vítimas já deixou o país, por isso não tem como acessar legalmente o dinheiro ao qual teria direito. Mesmo problema das famílias de operários estrangeiros mortos.

“Nos últimos anos, o Catar introduziu uma série de reformas trabalhistas destinadas a melhorar as condições dos trabalhadores, mas a falta de fiscalização significa que os abusos persistem em escala significativa”, afirma a ONG.

Além do abaixo-assinado, o país árabe vem sendo pressionado por uma coalizão formada por mais de uma dezena de confederações de futebol de todo o mundo e quatro patrocinadores oficiais da Copa do Mundo. A Fifa diz que faturou cerca de US$ 7 bilhões durante o ciclo da competição, US$ 1 bilhão a mais que o esperado.

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