O Hezbollah e outras forças aliadas ao Irã estão mantendo distância do novo confronto entre Teerã e Israel, mesmo após os bombardeios aéreos realizados por pelo Estado judeu nesta semana. O silêncio contrasta com o papel central que o grupo libanês historicamente exerce como linha de frente do regime iraniano em caso de conflito com Israel. As informações são da agência Associated Press (AP).
Desde os primeiros ataques israelenses, o Hezbollah limitou-se a condenar a ofensiva e a prestar homenagens aos oficiais iranianos mortos. Em Beirute, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, depositou flores no túmulo de Hassan Nasrallah, ex-líder do grupo morto em setembro do ano passado em uma operação israelense. No entanto, o atual comandante, Naim Kassem, não deu sinais de que haverá retaliação.

A ausência de uma resposta mais agressiva também se observa entre os aliados iraquianos do Irã. Milícias como a Kataib Hezbollah lamentaram publicamente o uso do espaço aéreo iraquiano por Israel, mas não ameaçaram reagir. Em comunicado, o grupo pediu apenas que o governo de Bagdá “expulse urgentemente as forças hostis do país”, em referência aos militares dos EUA que permanecem na região.
Especialistas apontam que os grupos estão mais enfraquecidos do que no passado. O Hezbollah, por exemplo, perdeu parte significativa de seu arsenal e da liderança militar no confronto com Israel no segundo semestre de 2024. Além disso, a queda do regime aliado de Bashar al-Assad na Síria, em dezembro, dificultou o envio de armas iranianas ao Líbano. “O Hezbollah foi degradado em termos estratégicos e ficou isolado das cadeias de suprimento na Síria”, afirmou Andreas Krieg, professor do King’s College de Londres.
Krieg e outros analistas acreditam que, diante de perdas acumuladas e prioridades domésticas, os membros do chamado “Eixo da Resistência” estão cada vez mais focados em sua própria sobrevivência. Segundo ele, a ideia de que esses grupos agiam como meros braços do Irã sempre foi imprecisa, e agora os vínculos parecem ainda mais frouxos. “Já não se trata exatamente de um eixo, mas de uma rede solta, em que cada um está ocupado em garantir a própria sobrevivência”, avaliou.
O pesquisador libanês Qassem Qassir, próximo ao Hezbollah, pondera que ainda não é possível descartar uma reação do grupo. “Isso depende de desenvolvimentos políticos e no campo de batalha”, disse. “Tudo é possível.” Já os Houthis, do Iêmen, continuam lançando esporádicos mísseis contra Israel, mas sua posição geográfica e capacidade militar limitada reduzem o impacto estratégico das ações.