‘Eixo da Resistência’ atinge alvos de Israel e EUA e eleva ainda mais a tensão no Oriente Médio

Navio de propriedade norte-americana e suposta instalação da inteligência israelense foram atacados na segunda-feira

Um navio graneleiro de propriedade norte-americana atacado pelos rebeldes Houthis. Uma suposta base da inteligência de Israel atingida pelo Irã na região semiautônoma do Curdistão, no Iraque. Os mais recentes desdobramentos do conflito no Oriente Médio, registrados na segunda-feira (15), ameaçam elevar a tensão a um novo patamar na região, com o autodenominado “Eixo da Resistência”, liderado por Teerã, indicando que não se deixou intimidar pela recente ofensiva liderada por EUA e Reino Unido no Mar Vermelho e que as forças iranianas são cada vez mais parte ativa nas hostilidades.

O conflito no Oriente Médio teve início no dia 7 de outubro do ano passado, com um ataque do grupo extremista Hamas em território israelense que deixou 1,2 mil pessoas mortas e cerca de 250 sequestradas pelos radicais. A resposta de Israel foi dura, e desde então a Faixa de Gaza está sob fogo permanente, com mais 23 mil palestinos mortos.

O Líbano já havia sido arrastado para as hostilidades, inclusive com um comandante do Hezbollah morto em um ataque aéreo israelense no sul do país na semana passada. O Mar Vermelho, por sua vez, virou um campo de batalhas devido aos ataques do Houthis contra embarcações alegadamente ligadas a Israel. Até então, Teerã vinha tendo participação essencialmente indireta, como apoiador tanto dos militantes libaneses quanto dos rebeldes iemenitas que atacam navios comerciais. Agora isso mudou.

O Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) anunciou na segunda, através da mídia estatal, seu ataque a uma posição israelense na cidade de Erbil.

Navios militares do Egito e dos EUA no Mar Vermelho, novembro de 2021 (Foto: U.S. Navy/Flickr)

“Em resposta às recentes atrocidades do regime sionista, que causou a morte de comandantes da Guarda e do Eixo da Resistência, um dos principais quartéis-generais de espionagem do Mossad na região do Curdistão iraquiano foi destruído com mísseis balísticos”, disse a IRGC em comunicado cujo conteúdo foi reproduzido pela agência Reuters.

A ação iraniana gerou reações tanto do Iraque, que anunciou a morte de civis em Erbil e classificou o ocorrido como uma “agressão”, quanto dos EUA, que se manifestaram através do Departamento de Estado e da Casa Branca.

“Os Estados Unidos condenam veementemente os ataques do Irã em Erbil e apresentam condolências às famílias das pessoas que foram mortas. Opomo-nos aos ataques imprudentes com mísseis do Irã, que comprometem a estabilidade do Iraque. Apoiamos o governo do Iraque e os esforços do governo regional do Curdistão para satisfazer as aspirações do povo iraquiano”, disse a diplomacia norte-americana.

Já Adrienne Watson, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, disse que os ataques iranianos foram “imprudentes e imprecisos” e atingiram a “soberania”, a “independência” e a “integridade territorial” do Iraque.

Teerã, por sua vez, enxerga a ofensiva no Curdistão como um ato de vingança pelas mortes de três comandantes da IRGC na Síria em dezembro de 2023.

“Garantimos à nossa nação que as operações ofensivas da Guarda continuarão até vingarmos as últimas gotas de sangue dos mártires”, afirmou a organização militar, acrescentando que mísseis balísticos foram disparados também contra o território sírio.

Embora aleguem que não houve instalações ou cidadãos norte-americanos feridos no ataque do Irã, os EUA foram atingidos no mesmo dia no Mar Vermelho, por um míssil dos Houthis que danificou um navio graneleiro de propriedade norte-americano, o Gibraltar Eagle.

O graneleiro recebeu apoio da Marinha britânica, membro da Operação Guardião da Prosperidade, uma coalizão militar focada em enfrentar a ameaça houthi na região. O capitão da embarcação atingida disse, segundo a agência Associated Press (AP), que “bombordo do navio foi atingido de cima por um míssil.”

Já a empresa dona do navio, sediada no estado norte-americano de Connecticut, disse que o míssil causou “danos limitados a um porão de carga, mas (o navio) está estável e está saindo da área.” E acrescentou que “todos os marinheiros a bordo do navio estão ilesos.” O Comando Central das Forças Armadas norte-americanas também disse que não houve “feridos ou danos significativos.”

Os Houthis alegaram que o ataque foi uma resposta aos bombardeios liderados por EUA e Reino Unido no Iêmen na semana passada, que por sua vez foram uma ação retaliatória em função dos frequentes mísseis e drones disparado contra as embarcações comerciais no Mar Vermelho.

Embora os EUA não tenham se manifestado sobre uma eventual retaliação após o mais recente ataque, o presidente Joe Biden já havia dito que “não hesitará em tomar medidas adicionais para proteger o nosso povo e o livre fluxo do comércio internacional, conforme necessário”. Washington também reforçou o alerta para navios comerciais de propriedade ou com bandeira dos EUA se afastem do Mar Vermelho.

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