Tribunal da ONU julga acusados de atentado que matou ex-premiê do Líbano

Julgamento de suspeitos será nesta terça (18), em Tribunal Especial da ONU; carro-bomba matou político sunita Hariri

Atualizado em 18 de agosto de 2020, às 9h47

O tribunal que julga o assassinato do ex-primeiro-ministro do Líbano, Rafik Hariri, entende que o atentado foi causado por membros do Hezbollah, mas que não há evidências de envolvimento da liderança do grupo ou da Síria. As informações são da Reuters.

No veredicto, que tem 2.600 páginas, os juízes sustentam que o militante do grupo xiita Hezbollah Salim Jamil Ayyash estava com um dos celulares usados no atentado.

O julgamento final dos quatro membros do grupo extremista envolvidos no caso começou nesta terça (18), em um Tribunal Especial da ONU (Organização das Nações Unidas), na Holanda.

O premiê morreu após explosão de um carro-bomba na capital, Beirute, em 14 de fevereiro de 2005. Uma das consequências da morte foi a retirada das tropas sírias que ocupavam o Líbano desde o fim da guerra civil, que durou 15 anos e terminou em 1990.

Caso Hariri terá veredito após 15 anos; julgamento começa na terça
Carro bomba momentos após a explosão, que matou Hariri, em fevereiro de 2005 (Foto: Flickr/Saleh Rifai)

De acordo com a Associated Press, os promotores se basearam nos dados encontrados nos telefones celulares que os suspeitos teriam utilizado para rastrear os movimentos de Hariri semanas antes do assassinato.

Desde 2014, foram ouvidas 297 testemunhas em 415 dias de audiências. Além do político, 21 pessoas morreram na explosão e outras 226 ficaram feridas.

Os réus, que não foram encontrados até hoje, são Ayyash, Assad Sabra, Hassan Issa e Hassan Habib Merhi. Se condenados por crimes como homicídio e ação terrorista, a pena é de prisão perpétua.

Aprofundamento da crise

Dividida entre muçulmanos sunitas e xiitas, além de católicos, druzos, maronitas e diversas outras religiões, a opinião pública vê o tribunal como uma “forma imparcial” de dar um desfecho ao caso.

O Hezbollah, que detém grande influência sobre a política do país, nega o envolvimento e cusa um suposto “complô israelense” para manchar sua imagem.

“Para nós será como se nunca tivessem sido emitidos”, disse o líder do grupo, Sayyed Hassan Nasrallah, na semana passada, sobre os veredictos do julgamento.

Em 2005, Hariri era o político sunita mais proeminente do Líbano, enquanto o Hezbollah, apoiado pelo Irã, é um grupo muçulmano xiita.

Questionado sobre as possíveis repercussões, o ex-primeiro-ministro e filho do político falecido, Saad Hariri, afirmou que deve se pronunciar após a publicação da decisão final. “A justiça deve prevalecer independentemente do custo”, pontuou.

O filho de Hariri, Saad, deixou o poder em 2019, após manifestações que varreram o pequeno país do Oriente Médio.

Tags: