Após um ano e meio, ONU atribui ao governo iraniano a morte de Mahsa Amini

Investigação da Nações Unidas sugere ainda que crimes contra a humanidade foram cometidos pelo Estado durante os protestos populares

A Missão Internacional Independente de Apuração de Fatos sobre o Irã, da ONU (Organização das Nações Unidas), disse ao Conselho de Direitos Humanos nesta segunda-feira (18) que a morte da jovem Mahsa Amini, em setembro de 2022 no Irã, foi causada por ações do governo iraniano, concluindo assim uma investigação de cerca de um ano e meio. As informações são da agência Reuters.

Mahsa Amini, de 22 anos, visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela polícia da moralidade por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois, em 16 de setembro de 2022.

Mahsa Amini, jovem morta no Irã (Foto: reprodução/Twitter)

Familiares alegam que a jovem foi violentamente agredida sob poder das autoridades, enquanto Teerã diz que ela sofreu um ataque cardíaco. A morte desencadeou protestos em todo o país, que começaram no Curdistão, província onde vivia a jovem, e depois se espalharam, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da República Islâmica.

“A nossa investigação estabeleceu que a sua morte foi ilegal e causada por violência física sob custódia das autoridades estatais”, disse Sara Hossain, presidente da Missão, concordando assim com a versão da família dela.

Hossain ainda condenou as ações de Teerã para conter os protestos populares que se seguiram à morte. As forças de segurança iranianas reprimiram as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes nas mãos da polícia e inúmeros casos de execuções judiciais abusivas, aplicadas contra manifestantes julgados às pressas.

“Estes atos foram conduzidos no contexto de um ataque generalizado e sistemático contra mulheres e meninas e outras pessoas que expressam apoio aos direitos humanos”, disse Hossain. “Algumas destas graves violações dos direitos humanos atingiram assim o nível de crimes contra a humanidade.”

A investigadora contestou também o código de vestimenta imposto às iranianas, o que inclusive vitimou mais uma jovem, em outubro de 2023. Armita Garavand, de 17 anos, morreu em circunstâncias idênticas às da morte de Mahsa, com testemunhas também acusando a polícia da moralidade de agredi-la devido ao uso do hijab.

“É difícil compreender que, no século 21, o acesso das mulheres aos serviços e oportunidades mais básicos, tais como escolas, universidades, hospitais e tribunais, ou a oportunidades de emprego no governo ou em outros setores, deva estar sujeito a uma exigência totalmente arbitrária de uso do hijab obrigatório”, disse a investigadora da ONU.

O anúncio não foi bem recebido pelo Irã, que acusou a Missão de “flagrante falta de independência e imparcialidade.”

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